Edgar Silva invoca luta contra os Felipes de Espanha e diz que Marcelo está "nervoso"
Firme, convicto, palavras certeiras. Edgar Silva foi interrompido com aplausos várias vezes nas suas intervenções da noite. Primeiro no Dafundo, num jantar-comício, descreveu a "envolvência, participação e mobilização" que sentira nesse dia de campanha. Na Cova da Moura, também, "uma ilha" ao pé de Lisboa, na sessão de reformados, na Casa do Alentejo, cujas "velhas paredes tiveram dificuldade em suster tanta energia que transbordava", nas ruas da zona da Graça, "acolhido tão bem", numa campanha que garante estar "em crescendo". A tal ponto, ironizou depois, "que o candidato apoiado pelo PSD e CDS, revela algum nervosismo, parece que tem pressa, vê o terreno fugir-lhe dos pés e... parece que tem receio das eleições". O candidato comunista reagia às declarações, terça feira de manhã, de Marcelo Rebelo de Sousa, segundo as quais os eleitores já teria decidido o seu voto. "Antigamente, no tempo da "velha senhora" é que as eleições eram um simulacro. Era assim no tempo do fascismo, já se sabia quem ia ganhar antes mesmo das eleições. Em democracia é o povo que decide e o povo vai decidir no próximo dia 24, não uma qualquer estação de televisão ou comentadores", salientou, levando ao rubro a audiência dos apoiantes de Oeiras, Cascais, Algés e Dafundo.
Neste jantar comício Edgar Silva escolheu para tema forte a "soberania e a independência nacionais", uma "marca distintiva e que diferencia", no seu entender, a sua candidatura das demais. E chegou a invocar a "luta do povo português contra o domínio dos Filipes de Espanha", que culminou com a restauração nacional em 1640. "Voltou a ser urgente reafirmar direito do povo português a autodeterminação, de a ser senhor e sujeito da sua historia, sobretudo por termos tido nos recentes anos uma história que está a ser escrita base vergonhoso tratado servidão voluntária", assinalou. Pa a o candidato comunista "é preciso ter uma voz portuguesa na Presidência da República. Não alguém que fale apenas português, mas que seja a voz portuguesa". Depois veio a história, memórias que orgulhariam qualquer monárquico. "Houve um tempo na nossa história que a grande fidalguia mercantil não hesitou em soçobrar ao jugo espanhol e em ceder parcelas da soberania nacional e foi o povo português que lutou e recuperou a sua independência. Também foi assim no 25 de abril de 1974 que a luta dos portugueses deu azo à libertação nacional. Também agora está em jogo garantir as condições para defender Portugal soberano e independente, não subserviente. Esta também é a hora da nossa libertação", destacou.
Momentos depois, no comício de Odivelas, voltou a apontar armas a Marcelo Rebelo de Sousa e a colocar a "desmistificação da verdadeira natureza" da candidatura, como um dos "grandes objetivos" dos derradeiros dias de campanha. "Age como se nunca tivesse tido nada a ver com o PSD, como se nem conhecem Passos Coelho, Paulo Portas e Cavaco Silva de lado nenhum, como se não tivesse estado umbilicalmente ligado às suas políticas de terrorismo social que tanto empobrecimento e exploração infligiram no povo português", asseverou. Edgar Silva alertou para o objetivo da direita de querer "ajustar contas, retaliar" a maioria de esquerda pela derrota do 4 de outubro. "Isso não pode acontecer", avisou, "o 4 de outubro deu aos portugueses importantes chaves, para abrir duas portas, a de um tempo de esperança e de um tempo novo. Não podemos permitir que se fechem estas portas e que as linhas políticas rejeitadas a 4 de outubro voltem a vingar através da Presidência da República". E conclui, já com a audiência a aplaudir de pé: "os valores de abril estão aqui, nesta candidatura". No final, como tem sido regra em todas as intervenções, todos cantam o hino nacional. Muitos de punho erguido.