Passos Coelho está a deixar nervoso António Costa, que já acusa o PSD de irresponsabilidade caso vote contra a proposta de apoio à Grécia e à Turquia inscrita no Orçamento do Estado para 2016. Passos Coelho, usando um tom irónico, respondeu dizendo que é Costa quem "tem a obrigação" de aprovar os compromissos internacionais do Estado e mostrar que tem uma maioria compatível com esses compromissos.."Hoje até assistimos a uma situação absurda que é ver o primeiro--ministro em Paris queixar-se da falta de responsabilidade do PSD por causa de dois dispositivos orçamentais que respeitam a compromissos externos do Estado português. O primeiro-ministro acha que é o PSD que tem a obrigação de os aprovar", afirmou Pedro Passos Coelho em Boticas (Vila Real)..Em causa estão, como noticiou o Público, 130 milhões de euros, dos quais 106,9 são para financiar o programa europeu de assistência financeira à Grécia e 24,3 milhões da contribuição portuguesa para o mecanismo de apoio à Turquia em favor dos refugiados.."Julgo que é o primeiro-ministro que tem a obrigação de os aprovar, porque na altura em que constituiu o governo disse que tinha uma maioria coesa, duradoura e estável para governar e que isso não punha em causa os compromissos do Estado português, fosse com a NATO, com a União Europeia, fosse com os seus parceiros europeus", disse o líder do PSD, que, apesar de tudo, não garantiu que o seu partido iria votar contra as duas propostas..A questão é que o governo necessita dos votos do PSD, uma vez que o Bloco e o PCP nestes assuntos não são aliados dos socialistas. Mesmo assim, o governo ainda está a negociar com o BE a possibilidade de uma eventual abstenção no artigo sobre a Grécia..Costa diz que seria "absolutamente irresponsável" da parte do PSD votar contra compromissos internacionais assumidos pelo seu próprio governo. Já a posição que o PCP e o Bloco possam vir a assumir é considera pelo primeiro-ministro como "coerente". "Quem está a mudar de posição", diz Costa, "é o PSD".."Nós estamos numa situação muito original, que é o facto de, pela primeira vez na história de todos os orçamentos, dois partidos, o PSD e o CDS, ou melhor, um partido sobretudo, o PSD, ter tomado esta posição muito original de votar contra tudo na especialidade, mesmo normas exatamente iguais àquelas que estavam em vigor no ano passado e mesmo normas que dão simples execução a compromissos internacionais assumidos pelo governo anterior", afirmou António Costa , dando o exemplo concreto do apoio à Turquia na questão dos refugiados..Apontando que "os 24 milhões de euros que estão previstos transferir para a Turquia foram objeto de um compromisso internacional assumido pelo anterior governo no Conselho Europeu de La Valetta", António Costa disse que o executivo socialista está simplesmente "a cumprir". "Dirão: "Ah, mas os outros partidos podiam ter uma posição diferente." Podiam. Mas são coerentes com o que sempre disseram: o PCP e o Bloco sempre foram contra estas normas nos orçamentos anteriores, teriam de mudar agora de posição. Quem está a mudar de posição é o PSD, que, sempre tendo sido a favor destas normas, agora se recusa a dar-lhes tradução..Costa até compreende que o PSD e o CDS votem "contra propostas que têm que ver com mudanças de política relativamente à sua ação governativa, como reposição dos salários da função pública e eliminação da sobretaxa do IRS". O que não aceita é que "votem contra a mera tradução orçamental de compromissos assumidos pelo governo anterior". E concluiu visivelmente irritado: "Isto é que é uma atitude única, nunca vista e espero que nunca mais repetida na democracia, porque é uma atitude absolutamente irresponsável", concluiu.