Catarina Martins já tinha dado pistas sobre aquilo que pensa acerca da criação de um veículo de resolução para o crédito malparado da banca portuguesa, mas esta quinta-feira deverá reforçar os avisos ao primeiro-ministro acerca dessa ideia. A porta-voz nacional do Bloco de Esquerda (BE) torce o nariz à solução defendida por António Costa, em entrevista ao DN e à TSF, e não perde tempo..Os bloquistas promovem esta quarta-feira um colóquio na Assembleia da República sobre o tema, socorrendo-se do exemplo do resgate na banca espanhola. E, quase como quem à partida contesta a intenção de remover o "lixo" da banca nacional à custa de um novo veículo de resolução, lançam a pergunta: "Outro banco mau?".O debate vai contar com a presença do economista e vice-reitor da Universidade da Madeira, Ricardo Cabral, e também de Bruno Estrada, diretor de estudos da Fundação das Comisiones Obreras (a maior confederação sindical do país vizinho) e militante do partido Podemos, de Pablo Iglesias, e, claro, da própria porta-voz nacional do BE..No evento, Catarina deverá assinalar que é, de facto, importante tomar uma posição rápida e forte sobre a banca, recusando a repetição dos erros dos últimos anos - que provocaram o colapso do BES e do Banif - mas também notará que o resgate aos bancos espanhóis revelou dois problemas: a limpeza similar à que Costa propôs pesou mais sobre os contribuintes e isentou os acionistas e, por outro lado, que as regras do jogo - a legislação sobre o sistema financeiro - não mudaram. Com prejuízo para a economia daquele país..Escaldada pelo que sucedeu do lado de lá da fronteira, a líder bloquista fará dois avisos ao governo do PS, traçando desde logo as suas linhas vermelhas. Primeiro, caso a criação do tal bad bank avance, que o Estado e os contribuintes serão sempre salvaguardados; e, em segundo lugar, que quaisquer decisões sobre crédito e outras operações financeiras deverão obedecer a critérios de interesse público..Recorde-se que, ao contrário do PSD e do CDS, só os parceiros de Costa se fizeram ouvir após a entrevista do primeiro-ministro ao DN e à TSF, publicada no domingo. E para vincar que a ideia lhes merece sérias reservas.."Há um problema que tem de ser resolvido e o Bloco está disponível para estudar soluções. Essa é uma solução eventualmente possível, mas lembro que foi utilizada em Espanha com dano para a economia e para o erário público", observou Catarina, lembrando que há "imparidades de 40 mil milhões de euros desde a crise financeira da banca". "É necessária uma limpeza, uma reestruturação", prosseguiu, embora tenha frisado que a prioridade do seu partido passa pela "proteção do erário público"..Já Jerónimo de Sousa definiu a fronteira do PCP: "Que não seja mais uma vez o dinheiro dos contribuintes a fazer essa limpeza." Sem saber em concreto "o que significa" a limpeza de que Costa falou, o secretário-geral comunista afirmou esperar que "não seja mais uma vez a repetição da história, em que a banca enquanto ganha dinheiro ninguém incomoda [mas], quando começa a perder, aqui d"el-rei venha dinheiro dos contribuintes".