Catarina Martins: "Cá estamos para esticar a corda que mantém uma maioria"

Líder do Bloco faz balanço dos seis meses da plataforma de esquerda e garante que o seu partido continuará a ser "exigente" com a governação do PS
Publicado a
Atualizado a

Catarina Martins fechou esta segunda-feira o primeiro dia de jornadas parlamentares do Bloco de Esquerda (BE) com um balanço dos primeiros seis meses de "geringonça". Em Évora, a porta-voz bloquista revisitou o que foi feito neste semestre desde que a esquerda assinou as posições conjuntas e, renovando o voto de fidelidade ao PS de António Costa, assegurou que "exigência" continuará a ser palavra de ordem na relação do Bloco com os socialistas. A frase com que rematou a intervenção não poderia ser mais cristalina: "Cá estamos para esticar a corda que mantém uma maioria que recupera rendimentos."

Por entender que "nenhum caminho é fácil nem está construído" e porque também ela não nega que as dificuldades existem, a líder bloquista sinalizou que há muito por fazer e que estes seis meses, que se completam na terça-feira, não diminuem o seu caderno de encargos. No entanto, Catarina também notou que não será pelo Bloco que a "geringonça" vai quebrar. Foi, aliás, ao dicionário buscar a definição de geringonça para alfinetar PSD e CDS. E todos aqueles que duvidaram da viabilidade da plataforma de esquerda. "Máquina complexa, com muitos parafusos, que funciona. E que vai funcionando. Cá está ela!", atirou.

O Bloco, disse Catarina uma e outra vez, "não cede e não desiste". E também por isso mantém simultaneamente os papéis de parceiro e de fiscal do governo. "A nossa exigência é o cimento desta maioria", apontou. Mas não conteve a farpa ao PS.

"Tantas vezes ouvimos dizer ou insinuar que a exigência do BE pode ser um perigo para o país. A exigência do BE é o que torna possível uma maioria para a recuperação de rendimentos. Se não tivesse sido exigente, estaríamos condenados a uma austeridade dura do PSD e do CDS ou a uma austeridade mais soft do PS. Sabemos que o país precisa de mais. E por isso é que continuamos a ser exigentes", continuou a líder do partido, perante uma plateia de uma centena de pessoas, onde se incluíam os deputados bloquistas.

Entre o pacote de medidas que a esquerda já fez ou quer fazer vingar, Catarina destacou a adoção plena por todos os casais, a procriação medicamente assistida (que deverá ser aprovada na sexta-feira, na Assembleia da República), a reversão das concessões dos transportes em Lisboa e no Porto, a passagem dos hospitais às misericórdias, as fusões nas águas, a extinção da sobretaxa de IRS, a reversão dos cortes nos salários e nas pensões e o aumento do salário mínimo nacional.

Pelo meio, ainda falou do tema quente das alterações aos contratos de associação para "defender a escola pública", um tema que ainda promete fazer correr muita tinta no setor da educação.

Ora, do fogo amigo que lançou a António Costa contrastou o ataque cerrado a PSD e CDS. "Não há dia nenhum em que a direita não diga que vem aí uma calamidade", começou. Isto porque, no seu entender, "sem bancarrota" e sem "a ameaça da catástrofe" para que as pessoas aceitem a austeridade "a direita não existe". Mas serenou as hostes: "A casa não está a arder."

Antes da porta-voz do Bloco, falou Mariana Mortágua, que dedicou uma parte substancial da intervenção ao caso dos contratos de associação. "Vejam bem como é que a direita se atirou ao ar", ironizou a deputada, que ainda alfinetou o comentador social-democrata Luís Marques Mendes, que deitou "lágrimas de crocodilo" em nome da "proteção de um colégio privado em Santa Maria da Feira". "O que Marques Mendes (e o PSD) está a defender não é a escola, é a renda", rematou.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt