Ao terceiro dia de debates, Marisa Matias puxou do facto de ser a única entre os candidatos à Presidência da República que disse que vetaria o Orçamento Retificativo que foi promulgado por Cavaco Silva, já no final do ano, para responder à situação criada pelo Banif..A candidata apoiada pelo Bloco de Esquerda repetiu-se para defender que "jamais assinaria de cruz um Orçamento que retira três mil milhões de euros aos contribuintes", depois de considerar a situação no setor financeiro como "um problema de regime"..Do outro lado na mesa, neste debate na TVI 24, Maria de Belém procurou aí definir uma distinção entre si e Marisa Matias no entendimento que faz dos poderes presidenciais. A ex-presidente do PS questionou a eurodeputada bloquista sobre o que faria se, ao vetar a Lei do Orçamento, o Parlamento devolvesse o diploma sem alterações..O chefe do Estado fica obrigado, nessa segunda vez, a promulgá-lo. Marisa Matias ripostou. "Não podemos pautar a atuação do presidente da República a pensar naquilo que a Assembleia da República vai ou não fazer", atirou. E insistiu: "Devolveria esse debate à Assembleia da República sem nenhum problema.".Maria de Belém discordou, insistindo no que faria Marisa Matias com idêntica aprovação do Orçamento. E logo sentenciou: "O presidente não pode fazer mais do que aquilo que pode fazer." A bloquista retorquiu: "Mas também não pode fazer menos.".Para Marisa Matias, "o presidente da República tem poderes, deve exercê-los dentro do seu quadro, não deve criar nenhum tipo de instabilidade." E insistiu que "seria interessante que essa posição fosse marcada" - a de devolver o Orçamento ao Parlamento..Também o exercício da atividade política em exclusividade de funções foi tema de distinção entre as duas mulheres candidatas a Belém (as primeiras desde 1986, quando Maria de Lourdes Pintasilgo protagonizou uma candidatura à Presidência). Em causa estão as ligações de Maria de Belém à Espírito Santo Saúde quando era presidente da comissão parlamentar de Saúde.."É uma questão política, não de outra ordem. É uma atividade legal, mas é uma lei que eu não apoio", apontou Marisa Matias. "Entendo que os cargos públicos devem ser exercidos de forma completamente exclusiva", completou..Já Maria de Belém recusou qualquer conflito entre as funções. "Isto não são cargos em conflito de interesses. O presidente da comissão parlamentar de Saúde não decide absolutamente nada, apenas gere os trabalhos dos vários deputados. Podem ter a certeza: se há pessoa que defende o interesse público intransigentemente sou eu.".Marisa recusa ir à guerra.Na parte final, a participação militar portuguesa em missões estrangeiras mereceu nova discordância entre as candidatas. Marisa Matias diz que será "completamente contra" a presença militar portuguesa em cenários de guerra. E criticou a contínua venda de armamento. "O fundamental é secar as fontes de financiamento do terrorismo.".Maria de Belém concordou com a necessidade de se atacar os paraísos fiscais. Mas discordou no capítulo da participação militar, ao recordar que Portugal tem de honrar os seus compromissos com a NATO..No início do debate, Maria de Belém sublinhou os 40 anos de vida pública e política. "O que me separa [de Marisa] é o tempo de vida, a experiência." A bloquista, 39 anos, notou que "se estas eleições não são um concurso de popularidade, também não são de antiguidade."