Caiu um mito: Nóvoa pôs um pé na porta para a segunda volta

Antigo reitor defende que votar Marcelo é tirar uma rifa. "Em democracia nada está resolvido", disse Sampaio da Nóvoa.
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Com os ecos que chegavam para lá do Douro, de que Marcelo Rebelo de Sousa não tem medo de uma segunda volta, e abrindo assim a porta a que ela aconteça, Sampaio da Nóvoa, que ontem andou pela Guarda e Viseu, pôs o pé nessa porta para dizer ao país que, "nestas eleições, está tudo em aberto".

A inclemência do tempo não tirou entusiasmo ao "novo tempo" que o antigo reitor da Universidade de Lisboa diz trazer para a política e que quer levar para a Presidência da República - e ele repetiu-o em Seia, onde começou o período oficial de campanha, na Guarda, em Mangualde e por fim, já à noite, num jantar com mais de 600 pessoas em Viseu, aquele que tantas vezes foi chamado de cavaquistão.

Os debates, os últimos debates, primeiro com Marcelo, depois com Maria de Belém, parecem ter dado ânimo à candidatura. E Nóvoa disse-o. "Nos últimos oito dias caiu um mito, e isso é bom para a democracia porque em democracia nada está resolvido", atirou, numa breve passagem pela sede de candidatura em Mangualde.

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Na pequena sala cheia, onde Os Mal-Amados receberam o candidato a prometer que "Mangualde é terra hospitaleira, onde sonha a vida inteira", Nóvoa apontou o dedo a outro mal-amado, Cavaco Silva, o atual Presidente, porque não soube entender - depois das eleições legislativas de 4 de outubro - "os indícios de uma possibilidade nova", que foi a nova maioria parlamentar que emergiu na Assembleia da República. "E o que fez Cavaco Silva?", perguntou, para antecipar a resposta. O Presidente insistiu que o país tinha "de ir pelos mesmos caminhos de sempre". "Não é para isto que quero ser Presidente da República", afirmou, depois de ter explicado que, nos oito meses que já leva de estrada, viu "um país fraturado" e "zangado com o seu Presidente, por sentir que nas alturas mais difíceis e mais dramáticas" não se ouviu uma palavra de Cavaco.

Em Viseu, repetiu-se o cenário do almoço de Seia: a entrada ao som da banda sonora de uma série que retrata a vida do segundo presidente americano John Adams, os aplausos acompanhados de abraços, a subida ao palco de sorriso estampado para saudar a presença de todos "em dia de intempérie".

Antes do candidato, as despesas dos discursos ficaram para figuras regionais e nacionais. Primeiro, com o mandatário distrital da candidatura, o antigo capitão de Abril, general Ferreira do Amaral, a lançar suspeitas sobre o passado militar de "Por onde andaria o cidadão Marcelo Rebelo de Sousa, no dia 25 de abril de 1974?", questionou o mandatário distrital de Nóvoa, no jantar da candidatura em Viseu.

"Faço a pergunta e respondo: devia estar no cumprimento do serviço militar obrigatório" (SMO), mas não estava, apontou Ferreira do Amaral, que acusou mesmo Marcelo de incumprimento da lei do SMO. "Mas tal não sucedeu, incumprindo com a lei militar."

Já Correia de Campos, o antigo ministro socialista, também não foi meigo com Rebelo de Sousa e com... a socialista Maria de Belém. A candidatura de Sampaio da Nóvoa é um candidato "sem esqueletos no armário, sem conflitos de interesses altamente lucrativos, sem mergulhos no Tejo e noitadas a andar de táxi".

O agora mandatário nacional de Nóvoa definiu o antigo reitor como alguém que "tem trânsito lá fora", ao recordar o seu percurso universitário e académico no estrangeiro. Esse trânsito, defendeu Correia de Campos, "não é apenas entre São Bento e Belém". Sampaio da Nóvoa explicou, por sua vez, o que é para ele o "novo tempo" que quer defender em Belém. Será um tempo, disse, de "luta contra os quatro D", de "desigualdades", de "desemprego", de "despovoamento ou desertificação" e de "desperdício de pessoas, de jovens e de conhecimento".

Antes, em Seia, Nóvoa iniciou o período oficial da campanha a recordar que, "num momento-chave do nosso passado recente, quando o que estava em causa era a defesa da Constituição, tanto Marcelo como Maria de Belém estiveram do lado dos que entenderam que a Constituição valia menos que o apoio dos credores". Sobre Rebelo de Sousa, Nóvoa carregou ainda mais nas tintas: "Votar em Marcelo é o mesmo que escolher uma rifa, nunca se sabe o que nos calha em sorte." Afinal, atirou, os portugueses não saberiam "qual dos Marcelos" teriam em Belém, "no caso cada vez mais improvável de Marcelo Rebelo de Sousa ganhar as eleições".

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