Ao segundo dia já se pede um segundo mandato

No estilo, Marcelo Rebelo de Sousa segue as pisadas de Mário Soares. No Alentejo, já lhe pedem para ficar dez anos. Há um Marcelistão em cada terra
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Marcelo segue em ritmo de campanha, não sendo de estranhar que haja quem peça já a sua reeleição. Ao segundo dia na estrada, já há apelos a um segundo mandato. "Tenha cuidado, que está a ficar muito magro. E eu quero-o lá dez anos, ouviu? Dez anos!", disse uma popular ontem quando o Presidente saía de um encontro com o primeiro-ministro, em Évora. E, mesmo que não tenha essa intenção, Marcelo vai fazendo por isso e rouba a Soares o grande mote: ser o Presidente de todos os portugueses.

As presidências a que chama de Portugal Próximo continuaram ontem no Alentejo, onde o Presidente voltou a ser recebido com afeto em todo o lado, fazendo também desta região um Marcelistão - termo que recusou na campanha, preferindo um Portugalistão.

"Marcelo, Marcelo", ouve-se em cada terra onde passa. Em Portel, concelho PS, a autarquia convidou a população para ir receber Marcelo à escola básica, onde apareceu o líder parlamentar comunista e deputado eleito pelo distrito, João Oliveira. A esquerda convive bem com Marcelo. Ou, pelo menos, muito melhor do que com Cavaco.

Os abraços, os beijos, as fotos e as mãos no rosto dos populares são genuínos, mas o gosto por ter sempre uma leitura política também. Mesmo num brinde de gin, em Reguengos de Monsaraz, Marcelo fez questão de comparar o sabor com a sua postura apartidária. "É suave. Isto era bom para os políticos provarem (...) para a descrispação", disse ao saborear o copo de Sharish Gin, de um empreendedor alentejano.

E, com o Programa de Estabilidade no centro do debate político, o Presidente não dispensou a pausa habitual para política dura (ver texto na pág. 20), antes de um encontro com refugiados. E aí defendeu António Costa, desvalorizando as críticas do Conselho de Finanças Públicas e considerando que o CDS era um partido "isolado" ao querer votar o documento no Parlamento. Isto, claro, com prudência, sem se querer comprometer com os números de Mário Centeno. Afinal, a direita já vai desconfiando.

Mesmo sem querer, com Marcelo tudo é política.Num percurso a pé, enquanto pedia emprestado um brinquedo a uma criança, voltaram as interpretações. "Queres dar-me o teu coelhinho?" Acrescentando: "Não, não dês, os coelhinhos são objetos de estimação." Mesmo sem querer, não se evitaram os burburinhos na comitiva devido à distância que o Presidente mantém com o líder da oposição: Passos Coelho.

E o próprio Marcelo vai brincando com o assunto. Numa visita a uma exposição em Évora, cumprimentou as pessoas do lado direito, justificando-se de imediato: "Isto é para não dizerem que eu agora só ligo à esquerda."

Marcelo segue Soares no estilo. O antigo presidente e histórico do PS foi a um segundo mandato em Belém e conseguiu o apoio de PS e PSD. É isso que quererá Marcelo? Não se sabe. Nas ruas vai colhendo popularidade, naquilo que parece uma campanha em contínuo.

O Presidente não esquece, no entanto, as causas que não dão votos diretos. E o dia ontem também foi de luta contra a violência doméstica (numa visita fechada à comunicação social a uma associação em Moura, com o recato que se exige) e dos refugiados.

O Presidente despiu a pele de Chefe do Estado e fez as vezes de tradutor de um dos refugiados com quem almoçou em Évora (foram 13). Nour Nasser é um sírio licenciado em Arquitetura, e teve uma conversa empática com Marcelo em inglês, que o Chefe do Estado foi traduzindo. Nour chegou a Portugal há um mês e meio e naufragou numa das vezes que tentou passar da Turquia para a Grécia. "Paguei para ir num barco com 25 pessoas e iam a bordo 65, o barco começou a meter água e naufragámos", contou o sírio. Marcelo, à jornalista, questionava: "E quanto custou?" Nassour respondeu de imediato: "1200 euros, o que é muito caro."

Perante o Presidente, o sírio contou como no barco naufragado estavam "20 bebés" e que na verdade queria ir para a Alemanha, embora agora esteja "feliz por estar em Portugal". Do país, conta que "só conhecia Figo, Ronaldo e o Benfica". Um outro refugiado, Tamam Aknajjar, pediu ainda a Marcelo ajuda para trazer os três filhos e a mulher grávida para Portugal. O Presidente garantiu: "Está a ser tratado. A lei permite e vai ter solução."

Sobre a política, Marcelo elogiou o facto de Portugal ser um dos países mais disponíveis, face à sua dimensão, para receber refugiados, mas criticou o facto de o país não poder dar o seu contributo porque há "um problema a nível europeu".

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