O escritor russo Daniil Granin, autor da crónica sobre o cerco da antiga Leninegrado pelos nazis, durante a II Guerra Mundial, morreu na noite de terça-feira, aos 98 anos, num hospital de São Petersburgo, foi esta quinta-feira divulgado..Considerado um mestre da literatura clássica russa, Granin estava há vários dias internado numa unidade de cuidados intensivos..Engenheiro de profissão, Daniil Granin, publicou em 1954 o seu primeiro romance, que narra as lutas de um cientista contra a burocracia, para desenvolver as suas investigações..Esta obra cativou os leitores soviéticos e trouxe fama a Granin, que escreveu, posteriormente, vários outros romances, que foram adaptados ao cinema, com argumentos feitos pelo próprio autor..Daniil Granin combateu como voluntário nas fileiras do exército soviético, na Segunda Guerra Mundial, e foi condecorado com a ordem da Estrela Vermelha..Entre 1977 e 1981, escreveu, conjuntamente com Ales Adamóvich, "Blokadnaya kniga" ("O livro do bloqueio"), uma crónica documental do cerco nazi a Leninegrado (atual São Petersburgo), durante a II Guerra Mundial..[destaque:O livro contém terríveis depoimentos, baseados em recordações e diários de sobreviventes do cerco nazi à cidade, que durou 900 dias, perto de três anos, a partir de setembro de 1941].Proibido inicialmente, devido à oposição exercida pelos hierarcas comunistas da cidade, o livro foi publicado censurado, em 1977, e só em 1984 foi editada a versão completa..Este trabalho de Granin mudou a narrativa oficial, triunfalista e superficial, do sucedido, devido aos relatos humanos, de mortos e sobreviventes, sem poupar as descrições da fome e das experiências de canibalismo, durante o cerco..A técnica documental de "Blokadnáya Kniga" teve grande influência sobre a escritora bielorrussa Svetlana Alexievich, Prémio Nobel da Literatura 2016, que reconhece Granin e Adamovich como seus mestres..O escritor russo foi galardoado com as distinções máximas soviéticas e russas, e foi declarado em 2005 cidadão ilustre de São Petersburgo.."Daniil Granin deixou-nos relatos honestos sobre o homem e a sua época. Escreveu sobre coisas que doem recordar, mas que são impossíveis de esquecer", escreveu no Facebook o primeiro-ministro russo, Dimitri Medvédev..O Kremlin também fez saber que o presidente Vladimir Putin apresentou as condolências pela morte do escritor..Granin (cujo verdadeiro apelido era German) nasceu numa povoação da província de Kursk, na parte ocidental da Rússia, mas a sua vida e a sua obra são indissociáveis de São Petersburgo, cidade da qual chegou a ser um símbolo, por encarnar toda a sua memória histórica e as suas tragédias, no século XX, segundo o historiador russo Daniil Kotsiubinski, natural da antiga capital russa.