Esta é talvez uma das estatísticas mais chocantes sobre a zona euro: a última vez que a inflação subjacente esteve perto da meta oficial dos 2% foi em maio de 2007, quase há nove anos. Os indicadores que medem a tendência da inflação subjacente dizem-nos que a política monetária do Banco Central Europeu tem sido, desde há muito, uma política equivocada. E ultimamente a taxa caiu de novo. Existe alguma coisa que o BCE possa fazer quando o seu Conselho de Governadores reunir na próxima quinta--feira?.Eu tenho três recomendações a fazer. Uma medida útil que traria benefícios imediatos seria a aquisição de crédito malparado no setor bancário. Pode ser acompanhada de políticas para forçar fusões bancárias transfronteiriças. Isso iria desintoxicar e reestruturar o sistema bancário de uma só penada. O objetivo não deve ser proteger os lucros dos bancos, mas conseguir que estes assumam mais riscos..Isso tornaria mais fácil para o BCE cortar a taxa de depósitos que se aplica às reservas bancárias no banco central. A taxa de depósitos é de -0,3%. As taxas negativas são complicadas. Se elas caírem demasiado, os bancos podem achar que é mais barato armazenar as suas reservas em cofres. Alguns bancos alemães já se estão a preparar para isso..Ninguém sabe até que ponto as taxas podem descer até chegar o momento, mas ainda não estamos nesse limite. Um corte na taxa de até 0,5 pontos percentuais - levando a taxa de depósitos até aos 0,8% - ainda nos manteria no lado seguro desse limite, porque os custos dos seguros de grandes quantidades de dinheiro em cofres são elevados..A minha segunda recomendação é sobre as medidas que não devem ser tomadas - os truques políticos. Essas são decisões que deixam algumas pessoas animadas mas que não vão aumentar a taxa de inflação. Por exemplo, o BCE não deve comprar obrigações bancárias nem qualquer outra forma de obrigações de empresas ou capital social. A razão por que os bancos não estão a emprestar não é pela falta de fundos, mas pela presença de muitos ativos tóxicos nos balanços. Seria muito melhor resolver este problema diretamente..Outro truque a evitar são as chamadas taxas de juro de dois níveis. A ideia básica é dividir a taxa de depósito em duas, com uma taxa mais baixa aplicada a reservas acima de um certo limiar. Se se isentar uma certa parte das reservas das taxas negativas, consegue-se providenciar algum alívio, mas isso também reduz o efeito da própria medida..A minha terceira recomendação diz respeito às políticas futuras. O BCE deve realizar um debate aberto sobre alternativas políticas, começando por assumir que o quantitative easing (flexibilização quantitativa) falhou. O BCE agiu tarde e não fez o suficiente. O QE, a injeção de liquidez por meio da compra de títulos em larga escala, poderia ter funcionado se tivesse sido implementado em 2008. Quando foi introduzido, no ano passado, já era tarde de mais. O volume de compras foi insignificante em comparação com programas semelhantes nos EUA, Reino Unido e Japão; o tempo determinado para o programa foi demasiado pouco..Talvez a diferença mais importante seja o ambiente operativo. Os programas nos EUA e no Reino Unido começaram quando as taxas de juro do mercado eram mais elevadas do que hoje. O programa europeu veio quando as taxas já eram baixas. Dado que um dos principais objetivos do QE é baixar as taxas, o seu impacto marginal é, portanto, muito menor..Quais são então as políticas alternativas que o Conselho do BCE deve discutir? Tenho argumentado a favor do "dinheiro de helicóptero", mesmo antes da recente deterioração do crescimento económico e das suas perspetivas.."Dinheiro de helicóptero" significa que o BCE iria imprimir e distribuir diretamente dinheiro aos cidadãos. Se distribuísse, digamos, três mil milhões de euros ou cerca de dez mileuro por cidadão ao longo de cinco anos, isso resolveria muito bem o problema da inflação. Iria provocar um aumento imediato na procura e aumentar o investimento com os fornecedores a expandir a sua capacidade de resposta a essa procura extra. A política ultrapassaria os governos e o setor financeiro. Os mercados financeiros odiá-la-iam. Não há nada nela para eles. Mas quem se importa?.O BCE não ficou sem munições, mas o número de ferramentas de políticas eficazes é claramente finito. Ele não deve descartá-las displicentemente, ou pode correr o risco de perder o pouco de credibilidade que lhe resta