Sábios, mas pouco

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Apesar da recente desvalorização bolsista dos bancos sistémicos da zona euro - que em Portugal ainda se acentua com uma debilidade do setor cuja manifestação foi adiada pelo anterior governo -, a revista Der Spiegel avisa que o Eurogrupo vai continuar a pressionar Lisboa por causa da tímida redução da austeridade. Para Bruxelas e Berlim, a dívida pública continua a disfarçar o problema principal que é a patologia do setor financeiro. Um exemplo desse equívoco está patente nas 448 pp. do último relatório (novembro 2015) do famoso Conselho dos Cinco Sábios, que é o oráculo das políticas económicas germânicas. Peter Bofinger, o mais sensato membro desse Conselho, chamou a atenção, na imprensa britânica, para os malefícios de uma inovação que o Relatório sugere: um "código de insolvência para Estados" (Insolvenzordnung für Staaten). No essencial, o Conselho propõe um conjunto de medidas que replicam o modelo de bail-in, que já existe para os bancos, criando uma hierarquia de credores dos Estados que sofreriam perdas em caso de falência. Mais, o Conselho quer limitar a qualidade e a quantidade de dívida pública que os bancos podem ter em carteira. Bofinger, com razão, afirma que se essas ideias fossem levadas a cabo isso enfraqueceria ainda mais os bancos em países como a Itália, Portugal e Espanha, empurrando esses Estados, no limite, para fora do euro. O relatório confunde rigor e fantasia, como na patética afirmação de que a união bancária iria "diminuir o impacto das crises bancárias" (§53), prontamente desmentida pela recente queda do Deutsche Bank. A sobrevivência do agonizante projeto europeu exigiria uma Alemanha subtil e estrategicamente prudente. Infelizmente, a tradição para Berlim se comportar como elefante em loja de porcelana parece prevalecer.

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