O ataque terrorista de Bruxelas não pretende apenas matar e ferir vítimas inocentes. Pretende colocar o medo no lugar da razão, na resposta europeia que se vai seguir. Infelizmente, não faltam cúmplices involuntários nos governos e nas oposições dos países europeus. Gente que, a pensar nas eleições seguintes, vai amplificar a força corrosiva do medo. O Acordo de Schengen vai ser transformado, demagogicamente, num bode expiatório. Há que ser claro: responder através da reinstalação das fronteiras nacionais, liquidando Schengen, é precisamente o que o terrorismo pretende. Os países europeus não podem reagir desordenadamente perante uma ameaça comum, como se fossem uma multidão numa sala de espetáculos, atropelando-se em pânico perante um incêndio. Responder com cabeça fria significa que só mantendo a escala europeia se poderá ter eficácia no combate a um terrorismo que se organizou com uma estratégia global de longo prazo, e que deve ter, neste momento, dezenas de células adormecidas em muitos países europeus à espera de ordem para atuar. O que tem falhado sistematicamente em Schengen é uma verdadeira cooperação policial ao nível dos serviços de informação. Tem sido a resistência nacionalista, não o espírito europeu, a principal ajuda dos terroristas. Há muito que a Europol deveria ser uma efetiva polícia europeia (como o FBI nos EUA), em vez de apenas uma míni e inofensiva agência na pacata Haia. Schengen e o euro são dois instrumentos da integração europeia que se encontram em agonia profunda. Desde 2010, a crise do euro tem sido tratada como se fosse um problema de alguns países, e não como aquilo que é: uma crise que exige uma reforma solidária e integral da união monetária. Com os refugiados e o terrorismo, se repetirmos o mesmo erro egoísta de análise, de só pensar na segurança do nosso quintal, não nos limitaremos a acabar com a livre circulação de Schengen. Acabaremos com o mercado interno e com a própria União Europeia. Ficaremos mais indefesos e muito mais pobres.