A política é a arte do possível, na certeira definição de Bismarck. Quando falamos de 500 milhões de cidadãos e 28 Estados, como é o caso da União Europeia, ainda mais atravessando uma situação de crise prolongada, a política transforma-se numa delicada gestão da complexidade. O problema reside em que, desde 2010, os líderes e as instituições europeias, não têm manifestado nem arte nem engenho para navegar na complexidade. Quando a crise europeia era apenas financeira, a Europa deveria ter criado as instituições de governação política e económica que faltavam desde o Tratado de Maastricht (1992) para viabilizar o seu coração vital: a união monetária. Nos anos de angústia, não surgiu nem Licurgo nem Sólon para recolocar a Europa na senda do futuro. No meio da silenciosa e generalizada mediocridade, apenas se ergueu Merkel, com a sua estratégia de seguir de perto os acontecimentos, mas a partir da retaguarda. Nos últimos seis anos, agravámos e alargámos a crise, em vez de a solucionar. Agora, mesmo no centro nevrálgico da União Europeia, na Alemanha e na Áustria, juntando-se à França, novas formações nacionalistas extremistas erguem-se para preencher o vazio deixado pela impotência e pela paralisia dos partidos tradicionais da social-democracia e da direita conservadora e liberal. Na Europa, o momento de liberdade da política parece estar a dar lugar ao momento de pura necessidade da física. Durante seis anos faltou a inteligência e a coragem dos estadistas para fortalecer e completar a integração europeia. Para dar rosto ao processo de desintegração europeia, não faltam aventureiros, veteranos e recém-chegados. A natureza nunca estabiliza a meio do caminho.