O terror como trip narcisista

Publicado a
Atualizado a

Depois do massacre homofóbico cometido por Omar Mateen em Orlando, o presidente Obama fez duas afirmações que explicam por que nos vai deixar saudades. Em primeiro lugar, não está provado que Omar tenha agido por ordens externas. Em segundo lugar, a questão central levantada por este crime horrível é de estrita política doméstica. O acesso ilimitado às armas, usando um direito constitucional que fazia todo o sentido no século XVIII, coloca hoje em causa nos EUA o princípio fundamental do monopólio da violência pelas instituições policiais e militares ao serviço da segurança pública. Enquanto o Congresso for mais sensível às generosas ofertas, para as recorrentes campanhas eleitorais, do mercado das armas do que à defesa da integridade física dos cidadãos, cada vez mais os EUA se tornarão um país em estado de guerra civil permanente de baixa intensidade. Mas a outra questão não é menos importante. É cada vez mais evidente que a adesão ao terrorismo, por muitos dos chamados "lobos solitários", se faz por um processo de identificação simbólica, semelhante à adesão dos consumidores a grandes marcas, sejam produtos ou clubes. As marcas correspondem aos "novos ídolos", que Nietzsche considerava serem o medíocre analgésico para o vazio deixado pela "morte de Deus" como fenómeno cultural, ontem europeu, hoje mundial. No caso de Omar, tudo indica que ele nem sequer sabia distinguir o EI da Al-Qaeda ou do Hezbollah! Os terroristas, hoje, têm Facebook, fazem selfies e encaram a matança como uma trip que lhes garante uma efémera celebridade global. O terror não precisa de programa. Os seus soldados, náufragos narcisistas com uma cabeça cheia de nada, só precisam que lhes deem atenção.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt