O sismógrafo

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Quem consulte todos os dias a evolução das taxas de juro praticadas sobre as obrigações portuguesas a dez anos tem sérias razões para se inquietar. Nos primeiros dias de fevereiro o aumento foi colossal, 29%. Só tem paralelo com uma subida ocorrida no distante ano de 1997. É claro que a situação dos mercados a nível global é inquietante. Os grandes bancos da Europa Central, afinal, revelam aquilo que já se sabia. A próxima grande sacudidela financeira na Europa terá na banca, mais uma vez, a sua correia de transmissão. Os mercados funcionam com "paixões", atuam movidos pela esperança, mas sobretudo pelo medo. E o problema é que os países dependem deles para o seu financiamento. E Portugal ainda mais. A pressão altista sobre a nossa dívida pública é preocupante pela sua singularidade. Não faz parte de uma tendência. A nossa dívida sobe, não apenas em relação à dívida alemã mas também em relação à dívida de Madrid e Roma. Isto significa que o país está a perder a batalha da comunicação. Estamos a ficar no radar dos mercados como o próximo alvo. A fragilidade do governo não é tudo. As desastrosas decisões do Banif, e sobretudo da recapitalização do Novo Banco, com um governador que foi reconfirmado no seu posto pelo anterior governo, terão contribuído muito mais para a desconfiança dos investidores internacionais do que a retórica parlamentar ou sindical, completamente desfocada da crueza dos factos. Os sinais de perigo estão à vista. A contagem decrescente não para. Em finais de abril teremos uma reavaliação do rating de Portugal. Se nada mudar até lá, a próxima crise política e económica portuguesa terá como epicentro não os palácios de São Bento ou de Belém, mas o escritório da agência canadiana, DBRS.

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