O efeito boomerang

Publicado a
Atualizado a

Com o seu génio habitual, Churchill definia a posição britânica em relação ao projeto de uma Europa federal, que o primeiro-ministro francês Aristide Briand apresentara em 1929: "Nós estamos interessados e associados, mas não absorvidos." Essa postura, de proximidade crítica, ou de distância cúmplice, poderia ser traduzida em 2016 por uma Grã-Bretanha (GB) que deveria assumir, dentro da União Europeia (UE), a liderança dos países fora do euro, equilibrando a hegemonia alemã. Infelizmente, ao anunciar em 2013 um referendo sobre a permanência da GB na UE, David Cameron agiu como um simples líder de partido, e não como um estadista. Ele pensou em Nigel Farage, do UKIP, e nos eurocéticos do seu partido, como Chris Crayling, e não nas questões de fundo. Agora, as sondagens devem tirar-lhe o sono. Certamente que uma eventual saída britânica da UE aumentará a tendência para o caos geral na Europa (coisa que sempre a política britânica considerou uma ameaça ao seu interesse nacional). Mas, o mais provável é que a GB desapareça como realidade política, antes de a UE se fragmentar, como avisou o ex-líder conservador William Hague. Nas sondagens, 54% dos escoceses afirmam querer a independência da Escócia, caso a GB saia da UE. Esse número só aumentará, à medida que se comecem a sofrer as consequências económicas e financeiras do brexit. A Europa foi muitas vezes vítima de líderes violentamente megalómanos. Desta vez, a Europa poderá ser reduzida a cacos pela medíocre estatura intelectual e moral dos políticos que a governam. Com afinco, parecem querer desmantelar a construção europeia, até que as suas ruínas fiquem à sua pequena altura.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt