No segundo dia de 2016, Salman Al Saud, talvez para celebrar com antecipação o seu primeiro aniversário à frente da monarquia de Riade, resolveu executar 47 pessoas. No ano passado, o "sistema judicial" deste país, onde os detidos são torturados até confessarem os mais horríveis crimes, conseguiu enforcar, fuzilar, decapitar, entre outros métodos que fariam os carrascos medievais parecerem corações sensíveis, mais 153 seres humanos. Este país onde se pode ser condenado à morte por deter livros religiosos que não sejam os do sunismo tradicionalista e militante oficial foi eleito em setembro último para presidir ao Conselho das Nações Unidas sobre Direitos Humanos. Na foto oficial de nomeação via-se Faisal Trad, embaixador em Genebra do reino onde as mulheres nem autorização para conduzir possuem, sorridente com o seu novo posto. Uma ONG de direitos humanos caracterizou bem o que sucedera: "Um pirómano foi nomeado para chefe de bombeiros..." Os protestos mundiais contra as execuções de 2 de janeiro concentraram-se na figura do clérigo xiita Nimr al-Nimr, preso desde 2012 por ter liderado no decurso da Primavera Árabe a resistência pacifica dos xiitas sauditas - minoria no país mas maioria na sua Província Oriental - contra o regime de Riade, que priva os xiitas dos direitos mais básicos. Dos países ocidentais só Berlim condenou, logo nas primeiras horas, os crimes sauditas. Os campeões oficiais da luta contra o terrorismo na Europa e nos EUA precisam de mais tempo para analisar a situação. Há demasiado petróleo e negócios envolvidos para conclusões precipitadas. Na próxima vez que os governantes ocidentais se exaltarem contra o Estado Islâmico, talvez valha a pena perguntar-lhes porque se curvam perante o reino de terror que lhe serve de modelo e inspiração.