Lição grega para portugueses

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Yanis Varoufakis lançou em Berlim um novo movimento cívico e político em favor da construção de uma verdadeira democracia à escala europeia. Um gesto que merece ser saudado. Contudo, ele encerra uma lição cujo conteúdo é urgente para os europeus, e sobretudo para os portugueses. No estado atual da zona euro (ZE) não existem saídas exclusivamente nacionais da austeridade que possam ser bem-sucedidas. Varoufakis é um homem inteligente, mas ainda não lhe ouvi a autocrítica que a sua nova iniciativa pressupõe. Isso implicaria reconhecer que o colapso do governo Tsipras, no Conselho Europeu de julho de 2015, se ficou a dever, principalmente, a um erro grego na análise da relação de forças. Atenas tentou assustar Bruxelas-Berlim com a ameaça de um grexit, que não só não era credível como, por acréscimo, afastou alguns potenciais aliados. Na altura critiquei Passos Coelho por este ter, sem rebuço, rejubilado com o fracasso grego, esquecendo que isso equivalia ao abater do último dique que separava Portugal da linha da frente da crise do euro, que é onde estamos hoje. Mas, por seu turno, António Costa também parece não perceber o que a Grécia nos ensina. Cá dentro predomina o discurso da "viragem de página da austeridade", para alimentar as hostes de apoio mais à esquerda, como se tal fosse viável no longo prazo, no campo minado em que a ZE se transformou. Lá fora, Mário Centeno assume a melancólica figura de fiel adepto do Tratado Orçamental, sempre pronto a anuir às pressões do Eurogrupo. Cá dentro, a ilusão de que basta vontade política para mudar de rumo. Lá fora, sorrisos e conformismo. Costa é um génio da tática. Mas, para não sangrar ainda mais, Portugal precisa do tempo longo de uma estratégia nacional e europeia. Fintas e dribles não chegam. Perguntem aos gregos.

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