Caminhar contra o vento

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A primeira lição deste OE 2016 foi o tornar claramente visível as limitações draconianas do "consenso europeu", que se confunde com a austeridade que hoje domina a zona euro, e que limita a margem de escolha dos países, sobretudo dos que não têm o argumento da sua massa bruta. Essas limitações seriam válidas também, ao contrário do que parece sugerir a oposição, para um eventual governo de direita. Outra lição é a de que, apesar do aumento da carga fiscal indireta, há um sinal inequívoco que é dado no domínio social e dos rendimentos do trabalho. Foi isso que permitiu ao PS contar com os votos do BE e do PCP. De resto, importa ter a humildade de reconhecer que a viragem que este Orçamento propõe iniciar é uma promessa mergulhada num novelo de sombras e ameaças enraizadas quase todas no plano global, onde se incluem o futuro da economia chinesa e dos países emergentes tão importantes para Portugal, como o Brasil e Angola. Mas aquilo que ditará o sucesso ou o insucesso do OE, e sobretudo do país, são os impactos que sobre ele terão as incertezas do processo de desintegração europeia em curso. Desde o resultado do próximo referendo britânico às oscilações no sistema bancário europeu e nacional, que foram agravadas por uma união bancária falhada. Sem esquecer o preço que a zona euro vai pagar pela quase inelutável derrocada de Schengen, quando a primavera multiplicar as vagas de refugiados almejando a Europa. Se pensarmos num horizonte de quatro anos, com todos os cisnes negros que se antecipam, então a turbulência é ainda maior. Diz-se que são as encruzilhadas perigosas que fazem despertar a grandeza nos homens e nos líderes. O perigo já cá está. Só falta o resto.

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