Exatamente uma semana antes de receber António Costa na elegante e moderna chancelaria junto ao Spree (na próxima sexta-feira), Angela Merkel recebeu o jovem primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi. As tensões entre Roma e Berlim não surgiram hoje. Mas tornaram-se mais evidentes depois de Berlim se esquecer de consultar Roma antes de ir a Ancara tratar da questão dos refugiados, com as relações bilaterais da Alemanha e da Rússia em matéria energética, e é claro com a rigidez do Tratado Orçamental. Sobre este último aspeto, o novo Orçamento italiano, claramente "expansionista", é um bom exemplo de que os maiores países da UE têm a vantagem, face aos contabilistas da Comissão, de fazerem do seu peso bruto o maior dos argumentos..No dia seguinte, Renzi voou de helicóptero para as minúsculas ilhas de Ventotene e Santo Stefano, não muito longe de Nápoles. Aí prestou pública homenagem a Altiero Spinelli (1907-1986), que nessa ilha esteve aprisionado por Mussolini até 1944. Em 1941, numa altura em que o Reich parecia poder vir durar muitos anos, Spinelli e E. Rossi escreveram o mais coerente projeto por uma Europa Federal (Per un"Europa libera e unita), que é conhecido na literatura como O Manifesto de Ventotene. No antigo presídio de Santo Stefano, Renzi deixou um cheque de 80 milhões de euros para a construção de uma Escola para futuros dirigentes europeus. Solenemente, frisou que a Itália não aceitará que a Europa seja derrotada pelos "egoísmos", insistindo no regresso aos "ideais e ao sonho europeu"..Em Berlim, imagino a inquietação diária de Merkel ao ler os jornais, e as infinitas glosas críticas à sua política de refugiados. A Baviera prepara uma queixa contra o governo federal, junto do Tribunal Constitucional de Karlsruhe. A Europa agoniza no seu crepúsculo, mas tendo um adágio por banda sonora.