O rasto das pessoas que Trump fez sonhar

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Logo à noite iremos confirmar que mais de 50 milhões de norte-americanos votaram para expulsar 11 milhões de imigrantes do país e outros 50 milhões votaram para que isso não aconteça.

Vamos ter mais de 50 milhões de eleitores dos Estados Unidos a reivindicar a edificação de um muro que separe o seu país do México e outros 50 milhões a repudiar essa construção xenófoba.

Vamos ter 50 milhões de americanos a apoiar a ideia de que a compra de armas pelos cidadãos deverá ser ainda mais facilitada e outros 50 milhões, pelo contrário, a achar que ela deverá ser proibida.

Vamos ter 50 milhões de americanos que se manifestaram contra o embrião de serviço nacional de saúde lançado por Obama e outros 50 milhões que procuraram mantê-lo.

Vamos ter 50 milhões de americanos defensores da ilegalização do aborto e 50 milhões apoiantes da legalização.

Vamos ter 50 milhões de americanos críticos de novos acordos globais de comércio e 50 milhões a favor deles.

50 milhões pedirão o fecho do mercado norte-americano a muitos produtos estrangeiros, para proteger a produção nacional, e outros 50 milhões preferirão manter as regras atuais e o reforço da globalização.

50 milhões exigirão reduções de impostos e 50 milhões exigirão mais investimentos do Estado.

50 milhões acham a corrupção de Wall Street e Washington irrecuperável, outros 50 milhões acreditam na salvação e na moralização dos centros financeiro e político do país.

50 milhões de americanos preferirão que os Estados Unidos reduzam o dinheiro que gastam na política externa, outros 50 milhões acreditarão na manutenção do intervencionismo do país.

50 milhões dirão que Trump será mais eficaz na luta contra o terrorismo, os outros 50 milhões preferirão Clinton.

Entretanto constataremos igualmente que 60, 70 ou mesmo 80 milhões de eleitores nos Estados Unidos preferirão não votar.

A divisão quase rigorosamente ao meio da sociedade norte-americana no mais variado leque de assuntos e a indiferença de 40% dos cidadãos com capacidade eleitoral sobre quem vai mandar no Estado mais poderoso do mundo nada têm de novo.

A novidade desta eleição é um candidato como Donald Trump, com todo o seu ódio, toda a sua ignorância, toda a sua rudeza - a níveis nunca vistos - ter feito sonhar mais de 50 milhões de pessoas e só acabar derrotado, se o for, pela força de uma comunicação social que se descredibilizou, cega na sofreguidão de o tentar desacreditar. O rasto deixado pelo sonho funesto daquelas pessoas e pelo suicídio infantil da imprensa dita séria não vai apagar-se hoje, mesmo se Hillary Clinton ganhar.

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