Durão Barroso nunca foi um político, foi alguém que andou na política. Estar na política pressupõe ter como primeiro pensamento servir os outros. Ora, o sócio do Clube Bilderberg, o professor do Instituto Politécnico de Macau, o membro do conselho internacional da Ópera de Madrid, o chairman da UEFA Foudation for Children, o professor convidado da Universidade de Princeton, o homem do Institute of Public Policy de Belgrado, o consultor da McDonough, o administrador do The European, o presidente da Fundação do Palácio de Belas-Artes de Bruxelas, o copresidente do centro europeu para a cultura, o presidente honorário da European Business Summit, o administrador de mais uma série de conselhos e palestrante em tudo o que é sítio nunca esteve interessado em servir a comunidade. O homem sempre foi um facilitador..E depois de ter andando a construir, com cuidado e habilidade, a sua carreira, chegou ao topo: tornou-se o facilitador-mor. O homem que vai facilitar para o maior banco de "investimentos" do mundo, o Goldman Sachs. Esse banco que alberga tudo o que são indivíduos que se disfarçaram de políticos para depois poderem facilitar melhor. Essa organização de rapazes e raparigas de poucos escrúpulos e muita ganância..O Durão, de banca, não percebe nada, mas também ninguém lhe exige que saiba. Durão vai para facilitar. Pega no smartphone, acede à lista de contactos que pacientemente foi construindo e dá uma palavrinha pelo seu novo patrão. Parece que também vai ajudar o Goldman a "mitigar" os efeitos do brexit. Uma nota de humor, pois claro. Não deixa de ser cómico que um dos maiores responsáveis pelo estado a que a União Europeia chegou, e que em grande parte levou a que a Grã-Bretanha saísse, venha agora cobrar para ajudar uma empresa a suavizar os efeitos dessa saída. Talvez não seja humor, talvez seja mesmo um gigantesco nojo..Para atingir o lugar cimeiro da arte de facilitar foi preciso passar por várias fases e cumprir várias etapas. Não se chega a grande facilitador assim do pé para a mão. Facilitando uma cimeira nos Açores chegou a presidente da Comissão Europeia, facilitando e dizendo ámen a tudo o que vinha da Sra. Merkl lá foi mantendo o cargo, entre muitas outras facilitações menores..Quer lá Durão Barroso saber que a Goldman Sachs tenha estado no cerne da crise que ainda estamos a viver, que este banco seja o verdadeiro símbolo de tudo o que levou ao caos financeiro. Que essa organização tenha sido a campeã do subprime, que tenha ajudado a esconder défices para depois especular e ganhar fortunas com esses próprios défices. Quer lá ele saber que "esse supermercado de especulação e risco", nas palavras do jornalista do Le Monde Marc Roche tenha ajudado a semear desemprego e miséria por esse mundo fora. Quer ele, sobretudo, lá saber que a sua ida para este banco deteriora de uma maneira gravíssima a imagem de toda a classe política: um indivíduo que vai facilitar negócios aproveitando toda a rede de contactos que adquiriu enquanto presidente da Comissão Europeia e que vai pôr ao dispor de um banco de investimentos tudo o que sabe sobre o funcionamento e a estratégia dos países europeus. Digamos que fez um estágio na Comissão, recolheu números de telefone na agenda, tirou as informações relevantes e agora vai facilitar..Sim, este homem foi primeiro-ministro de Portugal e presidente da Comissão Europeia. Um tipo que andou a estagiar para grande facilitador nos cargos por onde passou. Com indivíduos como este não admira que a imagem da classe política esteja na lama e que a Europa tenha chegado aonde chegou..2. Houve quem se tivesse insurgido contra as declarações de Maria Luís Albuquerque por ela ter afirmado que, se ainda fosse ministra das Finanças, Portugal não estaria em risco de sofrer sanções. Mas desde quando quem fala verdade merece castigo?.Não será certo que o governo de que fez parte nunca cumpriu uma meta orçamental previamente acordada? E teve alguma avaliação periódica negativa? Pois é. Maria Luís sabe, e não teve receio em exprimi-lo, que não estão em causa resultados mas sim as soluções que se defendem. Ora, ninguém mostrou tanta fé na fórmula que a Comissão e o resto dos parceiros da troika tinha para Portugal e os outros países europeus, que sofreram com a crise internacional e com os caminhos errados que vinham percorrendo, como a ex-ministra das Finanças e o anterior governo..O choque com a frase do comissário, que disse claramente que a possibilidade de sanções dizia respeito ao exercício orçamental passado, foi tal que o PSD ficou sem discurso no debate sobre o Estado da Nação..O que mais espantou no desejo mal disfarçado de que fossem aplicadas a Portugal, por desvio à linha europeia, foi a falta de consciência do que isso significa. Pouco importa, neste momento, se é este governo que está a seguir as políticas corretas ou o anterior. Longe disso. O que é relevante e assustador é que um partido defenda a própria limitação à escolha por parte dos eleitores e a sua própria liberdade de escolher o seu caminho.