1 Não me atrevo a fazer grandes reflexões sobre o atual estado de coisas no Brasil. Conheço vagamente a organização política, os partidos, os principais protagonistas, julgo saber que a corrupção é uma espécie de sistema instalado e pouco mais. Sendo um país de que nos sentimos próximos, preocupamo-nos. E, ao mesmo tempo, tendo um certo distanciamento, permite-nos uma análise mais alargada sobre fenómenos que questionam a maneira como as nossas sociedades estão organizadas.."Não se luta contra bandidos utilizando atos de banditismo." A frase é de um colunista da Folha de São Paulo, Vladimir Safatle. Os bandidos serão Lula, Dilma e outros acólitos e os praticantes de atos de banditismo alguns juízes, nomeadamente aquele que tem sido o protagonista da investigação Lava-Jato, Sérgio Moro, que tornou públicas escutas entre Lula e o seu advogado e entre o mesmo Lula e a presidente do Brasil..A impunidade com que a corrupção - muitas vezes mais percecionada que efetiva - e a captura do interesse público por interesses privados singrou em algumas comunidades levou a que alguns setores pensassem que as armas que o Estado de direito tem para combater este tipo de criminalidade não fossem as suficientes. Mas, em vez de se tentar melhorar o sistema, dotando-o de melhores meios, de gente mais bem qualificada, entrou-se por um caminho ínvio que tende a destruir o próprio Estado de direito..O que vamos vendo no Brasil é um bom exemplo. Um conjunto de juízes decidiu que as regras estabelecidas, as leis aprovadas pelo povo, deixam de fazer sentido em função das convicções deles sobre determinadas condutas. Por ventura, e parece ser o caso brasileiro, não existirão muitas dúvidas sobre a culpabilidade de alguns suspeitos, mas a lei exige mais. Exige que os meios para se apanhar os ladrões não sejam os mesmos que eles utilizam para assaltar as nossas comunidades. A forma, quando se fala de questões dos direitos dos cidadãos face ao poder do Estado, confunde-se com o conteúdo..Os julgamentos devem ser feitos nos locais próprios e não na praça pública, utilizando meios de comunicação social que se movem por interesses venais ou ideológicos. Os meios de defesa não podem ser postos em causa, as provas têm de ser recolhidas com respeito pela lei. Sobretudo, as convicções têm de se seguir à produção de prova e não partir de convicções para se tentar arranjar provas que as fundamentem. O mais grave e o que põe em causa o Estado de direito é serem pessoas a quem confiamos a espada não cumprirem as regras que lhes impusemos para a sua utilização. E, confiando que a iam utilizar bem, demos-lhes poderes que em democracia não damos a ninguém. As suas decisões são soberanas e em momento algum os podemos afastar quando nos desagradam. A exigência, claro está, para com eles tem de ser maior. Um erro na eleição de um primeiro-ministro pode ser remendado, um juiz que exerce mal o seu mandato poderá ter um efeito devastador..Quando se utilizam meios errados, por muito boas que sejam as intenções, as conclusões serão sempre erradas. Se nos tornamos bandidos para apanhar bandidos seremos tão-só como eles. Nada nos distinguirá..2 Parece haver um complô entre os dois principais partidos portugueses para destruir qualquer tipo de confiança no nosso sistema educativo..Tiago Brandão Rodrigues, de quem se desconhece quaisquer competências específicas em matéria educativa nem tem qualquer tipo de experiência política, chegou ao ministério e resolveu mudar, mudar tudo. Ou seja, fazer exatamente como o seu antecessor..Admito que o catastrófico mandato de Nuno Crato - com os exames da quarta classe que faziam do sistema educativo português uma espécie de museu europeu da educação e a fúria antifacilitista numa educação que chumba como nenhuma e que não consegue manter os rapazes e raparigas na escola - impunha, digamos assim, algumas mudanças..No entanto, era obrigatório bom senso e um esforço para que as modificações não destruíssem o capital de confiança sempre necessário a uma boa implementação de políticas. Mas o ministro, à boa maneira de um aprendiz de feiticeiro, mal chegou reverteu logo os métodos de avaliação e nem se importou que o ano letivo já tivesse começado..Desta vez, a fúria revolucionaria que dá às pessoas quando chegam ao Ministério da Educação nem esperou pelo final do ano. Mas não contente com tal desempenho, e depois de ter pensado melhor - coisa, já agora, que devia ter feito antes das tais primeiras medidas -, deu um golpe de rins e consegui fazer algo de ainda mais difícil: mudar outra vez as regras durante o segundo período, melhor ainda, dois dias antes de acabar o período, com o requinte de deixar a possibilidade de as escolas poderem ou não fazer as provas de aferição. Uma espécie de montanha-russa, sim, não, talvez..O que me espanta não é termos tantos problemas no nosso sistema educativo, é o sistema conseguir aguentar-se contra tanta incompetência, contra tanto experimentalismo, contra tanto deslumbramento.