O silêncio do PSD perante a defesa da pena de morte é preocupante. Estamos a falar de um dos "partidos de regime", o mais votado nas últimas legislativas, e as declarações de André Ventura nesta semana na TVI24 - o candidato laranja à Câmara Municipal de Loures propôs a pena de morte para casos de terrorismo e insistiu na introdução da pena de prisão perpétua - não dão direito a hesitações. Não sei quantas vezes o Expresso e outros órgãos de comunicação social tentaram contactar a direção do PSD e pouco interessa para o caso. Bem sei que estamos em agosto, que há muito boa gente de férias, mas esta é daquelas respostas que podem muito bem ser dadas por um qualquer assessor de serviço. Não devia merecer grande reflexão ou autorização superior..A pena capital foi abolida em Portugal, para crimes civis, em julho de 1867. Há 150 anos. Tanto quanto me lembro, o PSD participou nas comemorações da data organizadas pela Assembleia da República. Aliás, o PSD, que tanto critica o PS por se apoiar em partidos que não respeitam alguns dos princípios básicos da União Europeia, sabe certamente que esse é um dos pilares da União e que a abolição universal da pena de morte é algo que os parceiros europeus defendem em conjunto. Não se percebe, portanto, a hesitação e o atraso na resposta às declarações do candidato Ventura..De todos os temas com que nos temos entretido e indignado nas últimas semanas, este não é, em definitivo, assunto de silly season. Merece discussão, tempo de antena, papel e tinta, o que seja. Há coisas com que não se brinca (e não me venham com o argumento do politicamente correto, por favor). Se, nos últimos meses, o PSD não encontrou forma de se distanciar de André Ventura, passando mesmo pela vergonha de ver um dirigente do PNR a queixar-se de concorrência política desleal, este seria o momento certo para cortar esses laços de confiança política. Pelo contrário, o que vimos foi o PSD a desafiar António Costa a retirar a confiança política à candidata socialista em Loures, porque Sónia Paixão teria admitido numa entrevista uma coligação pós-eleitoral com o PSD e com André Ventura. Não vale gastar mais caracteres, até porque as anedotas não se explicam....Estamos à beira de umas eleições. São autárquicas, logo menos passíveis de leituras nacionais, mas o facto é que o PSD tem estado, de forma sistemática, em mínimos históricos em todos os estudos de opinião. Será que a costumeira fleuma com que os grandes partidos lidam com ciclos de impopularidade não se aplica à atual direção do PSD? No discurso de regresso pós-férias, na festa do Pontal, Passos Coelho usou uma frase e duas ideias que não envergonhariam André Ventura ou Donald J. Trump: "O que é que vai acontecer ao país seguro que temos sido se se mantiver esta possibilidade de qualquer um viver em Portugal?" Imigração e (in)segurança, ligadas assim, com ligeireza e sem factos que suportem a associação, é uma linha narrativa que faz parte de qualquer projeto político populista de extrema-direita. Daí à defesa da pena de morte para terroristas ou à prisão perpétua para incendiários é um saltinho. Em tempos de vazio ao centro, de eleitores cansados, desiludidos e pouco mobilizáveis, um post no Facebook e uns milhares de likes tornam o indizível demasiado apetecível. A escolha é tão legítima quanto qualquer outra. O PSD só tem de nos dizer ao que vem e se é nesse lado do tabuleiro que quer jogar.