Quando aparece um fenómeno novo, por exemplo o apogeu da esquerda radical e totalitária em países como Espanha e Portugal, a atitude mais adequada não é apenas combatê-lo, o que é uma obrigação moral, mas também perguntar quais as causas. Pelo menos em Espanha as causas são múltiplas. Uma delas é a descoberta de tantos casos de corrupção, que originaram o desamor dos cidadãos pela classe política, a qual consideram uma elite aproveitadora. Outra, muito importante, são os efeitos da crise sobre grande parte da comunidade, com a consequência de um desemprego crescente e a sensação de que durante muito tempo não serão recuperados os níveis de vida de antes. Mas o apogeu da esquerda radical, engrossada por muitos jovens universitários, em muitos casos de famílias "bem", e pelas classes urbanas, tem a sua origem principal num sistema educativo dominado desde há décadas pela esquerda. Este sistema educativo tem sido tradicionalmente contrário ao mercado, convenceu as pessoas de que a globalização é nociva, trabalhou para destruir o papel e a reputação do empresário e entronizou o Estado como o agente de último recurso, obrigado a todos socorrer nos tempos difíceis..O problema não é só os jovens terem aprendido estas teses erradas sobre as alavancas que geram riqueza e emprego, mas também que, além do mais, as tenham aprendido sob um sistema em que a concorrência é considerada essencialmente negativa. As nossas leis educativas em Espanha são herdeiras dos dogmas de maio de 1968 e incorporaram essas teses estúpidas de que os exames são segregadores, que a disciplina é má, que não há que cultivar a memória e que se deve aprender a brincar em vez de a estudar a sério. A consequência é que os jovens espanhóis acabam os seus anos de escolaridade sem ter adquirido as destrezas imprescindíveis para obter um emprego e, o pior de tudo, sem ter aprendido que só com trabalho, com esforço e com estudo se consegue resultados. O corolário desta estratégia errada é que os nossos jovens são o pasto de uma frustração que conduz ao ressentimento e, desde logo, à rebeldia. Tinham sido seduzidos por umas expectativas que não se cumpriram, creem que o sistema os enganou e associam-se a qualquer um que lhes ofereça a oportunidade de o derrubar..O sistema educativo introduziu na mente dos nossos filhos alguns elementos cancerígenos. O primeiro é a aversão pelas virtudes do risco, da concorrência e do mercado, que é sem dúvida a praça mais democrática de todas, na qual se verifica diariamente a oferta e a procura, a necessidade de satisfazer as necessidades dos demais com a maior qualidade e ao melhor preço possível. O segundo, com origem na mesma influência da esquerda e no seu genuíno objetivo igualitário é que, devido a um processo de seleção adverso, entram nas nossas universidades uma percentagem muito alta de maus estudantes, a maioria dos quais obtém títulos académicos com muito pouco esforço. A combinação de maus estudantes, que se esforçam pouco, que obtêm formações pouco alinhadas com as necessidades e urgências do mercado laboral, e que além disso acabam seduzidos por ideias completamente equivocadas sobre a direção na qual vai o mundo, são o cocktail explosivo perfeito para que estes jovens, e inclusivamente os seus pais - desanimados pela sua falta de horizontes -, votem na esquerda radical, a que lhes promete com desfaçatez, sem ligar aos custos, recuperar a Arcádia feliz. São estas as razões pelas quais, primeiro na Grécia e em Portugal, e a seguir em Espanha, ressurgiu o mau populismo, o de esquerda, aquele que faz descansar todas as soluções no ogre filantrópico de que falava Octavio Paz..Mas o populismo, no sentido estrito da palavra, é mais nobre. Aponta para uma estratégia política centrada no bem-estar dos cidadãos e do homem comum. Afirmo isto à conta do êxito crescente de Donald Trump, que tem muitas possibilidades de se tornar o candidato republicano à presidência dos Estados Unidos e que aqui na Europa é visto como um monstro. Porque não refletirmos sobre as causas de um fenómeno que ganha cada vez mais adeptos no país de referência do mundo? Será que metade dos americanos está louca? A mim parece-me que esta seria uma conclusão infantil. Arthur Brooks, o presidente do American Enterprise Institute, pensa que a ascensão de Trump tem que ver com a "política de desprezo" praticada desde sempre pelas elites progressistas de esquerda em relação à grande massa de pessoas normais, trabalhadores e cidadãos comuns dos Estados Unidos, que foram subvalorizados, qualificados de incultos e de muitas outras coisas mais. Este sentimento foi levado a limites impensáveis durante o mandato de Obama, um esquerdista declarado que nunca conseguiu entender como podia a classe trabalhadora votar à direita; e o mesmo se passa no meu país e quiçá em Portugal..Obama classificou durante demasiado tempo a classe trabalhadora e os conservadores como retrógrados, estúpidos e insensíveis, e isto fez transbordar o copo de muita gente que encontrou em Trump uma pessoa sem hesitações, que fala claramente e que, em muitas mais ocasiões do que se crê, pensa o mesmo que eles. Segundo Brooks, "o trumpismo é a consequência dessa política do desprezo, a reação ao desdém dos progressistas pelos cidadãos comuns que apenas aspiram a ganhar a vida numa situação complicada". Além do mais, Trump prometeu que se chegar à Casa Branca irá devolver aos Estados Unidos a grandeza perdida, desagravará as Forças Armadas e os seus veteranos, combaterá o Estado Islâmico e devolverá aos norte-americanos os empregos "roubados por China, Japão e México", o que, sem dúvida, exigirá tomar medidas para aumentar a produtividade dos trabalhadores do país. Já sei que este é um discurso elementar, por vezes pueril, mas um discurso atrativo, não só entre a América branca, mesocrática e tradicional - depreciada pelo progressista Obama - como também, e paradoxalmente, entre os hispânicos e os negros. Todos eles estão preocupados com a insegurança económica e laboral, o fluxo de imigrantes e também com o terrorismo islâmico. Estão fartos de uma classe política que não entende os seus problemas ou, se os entende, é-lhe indiferente..E os americanos não são como os europeus, adeptos do Estado. Apenas desejam que a terra das oportunidades dos fundadores da nação volte novamente a funcionar. Este é o isco com que pesca o extravagante Trump. Não sei o que acontecerá nos próximos meses nos EUA, sem sequer se acabará a competir pela Casa Branca. Estou perfeitamente ao corrente de algumas das suas barbaridades, como construir um muro na fronteira com o México, não deixar entrar nenhum muçulmano no país ou instituir sanções comerciais à China. Mas seria um erro subvalorizar o candidato com a prepotência e o desconhecimento europeus. Chamar-lhe palhaço ou monstro como se diz por aqui. Não tenho nenhuma dúvida de que se fosse presidente rodear-se-ia dos melhores assessores, poria de lado todas as suas excentricidades e, inclusive, seria capaz de construir um país melhor do que o de Obama, que, infelizmente, delapidou a benéfica influência americana no mundo e que não se ocupou com êxito do bem-estar dos seus habitantes.