22 janeiro 2016 às 00h04

Os lorpas da terrinha e de Sara Sampaio

Ferreira Fernandes

O uso é comum, no Brasil. Terrinha é o lugar de onde se vem. Terrinha é o que a gente deixa e continua agarrado à gente. Os portugueses já não usam terrinha. Antigamente, sim: "Da santa terrinha", dizíamos, como quem fala da mãe. Pois os brasileiros ainda continuam a evocar a "terrinha". Da deles. Com carinho. Agora, um segredo: sabem para quem eles também guardaram o termo? Não vão acreditar... Para Portugal! É mesmo. Dizem muitas vezes. E, como gostam do escrever falado, também metem nos jornais. Quando a notícia sobre Portugal não é grave e se pode tirar a gravata, eles dizem "lá na terrinha..." Parece que a presidente deles é meio búlgara e dessa Bulgária eles não fazem a mínima ideia. Mas terrinha portuguesa tem igreja com torre sineira como as de Mato Grosso, Pernambuco e eu sei lá. Da nossa terrinha talvez eles já não saibam muito, sabem aquilo que já se esqueceu mas fundo fica. Há dias, o jornal O Globo, para apresentar a modelo portuguesa Sara Sampaio, legendou assim: "Lá da terrinha..." O que foram dizer! Jornais e facebooks nacionais sentiram-se insultados. Lorpas!, diria Camilo, um assumido telúrico da terrinha. Estou a vê-lo, façanhudo, a zurzir com o aviso que um dia deixou na abertura dum romance: "Precisam-se mais conhecimentos para (...) ler que para (...) escrever." Isto é, lendo, calem-se. Mas como mandar calar quando o Facebook está ali, bunda a dar a dar, pedindo muitos "eu acho..." aos tolos?