O generoso Trump deixa os outros falar
A convenção republicana, em Cleveland, teve um momento alto no discurso de Ted Cruz, correligionário de Donald Trump. Antes, houve episódios miseráveis que mereceram o duro artigo do opinion maker Fareed Zakaria no The Washington Post, ontem. "Prendam Hillary", gritou muita gente, discursaram alguns líderes e também disse o agora candidato republicano. Reservar a prisão para os adversários políticos levou Zakaria à classificação certa: a América de Trump seria uma "república das bananas". Da América cúmplice e instigadora de repúblicas das bananas, a história guarda um rol extenso. Mas é seu mérito, embora contraditório, que ela seja o melhor exemplo, com a sua prática interna, do que é uma república democrática. O discurso de Ted Cruz, um tipo detestável e fanático religioso, ilustrou o lado bom, ao invocar a liberdade como o maior dos valores e ao ter a coragem de não ceder a sua opinião: perante a convenção de Trump, Cruz não apelou a votar em Trump. Recebeu vaias - e elas também foram exemplo de liberdade. Mas outra coisa foi o tweet de Trump sobre o episódio: "(...) Eu vi o discurso [de Cruz] duas horas antes mas deixei-o falar na mesma." Surpreende-me esta enormidade ter sido pouco comentada. "Deixei-o falar"?!!! Eis um favor que na América não se apregoa. Fareed Zakaria tem razão em acabar o seu artigo, assim: "Ganhe ou perca, uma consequência destas presidenciais pode ser que Trump seja ainda pior do que ele pretende."