Espanhóis invejam pacto à la portuguesa
Em Espanha, julgo, a expressão à la portuguesa só se conhecia na arena. Mas suspeito que aí os espanhóis não nos invejem muito. Assim, foi com estranheza que recebemos em Lisboa, ontem, Pedro Sánchez. O líder do PSOE, vejam lá, olha-nos com cobiça: ele também quer um pacto à la portuguesa. É tão raro sentirmo-nos desejáveis para os parceiros da Europa que até deu para ficarmos lisonjeados. Mira, que coisa mais rara, os espanhóis a quererem imitar-nos... Pois, há razão para ficarmos ainda mais orgulhosos: eles bem podem querer ser como nós, mas não conseguem! Pela matemática parlamentar, o pacto à esquerda dos socialistas espanhóis é impossível sem o Podemos. Ora, com o Podemos o PSOE não pode. O PS português pôde aliar-se ao PCP e ao BE porque o radicalismo de ambos era como os nossos costumes, brando. Umas espúrias ameaças à OTAN, coisas de cornos embolados. Já o Podemos marra mesmo numa questão essencial de Espanha: a unidade. Uma coisa são umas cortesias do padre comunista Edgar Silva à Coreia do Norte, outra é querer (como condição para aceitar o pacto) que se faça, só na Catalunha, um referendo sobre a independência da Catalunha... Este impossível "pacto à la española", este mal dos outros, deveria fazer-nos reconhecer um nosso bem. Termos tirado da cartola uma "solução impossível" foi o mérito, sobretudo, dum saber comum de arredondar ângulos. Pode ser mau em muitas circunstâncias mas não em evitar guerras civis.