Pelo batismo foi Constantin Axinte, mas há homens que ficam cunhados pelo trabalho. Romeno (Perieti, 1897, Slobozia, 1984), ficou conhecido pelo carimbo que nas costas das suas fotos ele quis passar a ser: Costica Acsinte. Deixou um arquivo com cinco mil fotos em placas de vidro. Aqueles infinitos tons de cinzento que nos fazem o passado mais nítido do que o ainda ontem. Todos temos o bigode de um avô assim ou a mãe sob os matizes de luz de uma floresta de casuarinas. Aquele pedaço de mundo, a cem quilómetros da capital Bucareste, teve durante mais de meio século só o Costica Acsinte a fotografá-lo. Caras, corpos, fatos pobres e ricos - pessoas, só pessoas, tornadas fantasmas ou memória. As mais antigas têm uma tela tosca de estúdio ao fundo e algumas, por causa do frágil suporte das placas de vidro, já são atravessadas por riscos desconexos e manchas químicas. Uma campanha internacional está a digitalizá-las mas os donos são universais: as fotos de Costica Acsinte não têm direitos de autor, são do mundo que as quiser. A fotógrafa australiana Jane Long pegou nelas e trabalhou-as a cores e com acrescentos surrealistas. Chamou à série "A Dançar com Costica" e o site da CNN publicou-as ontem. De certo modo é o Dia dos Mortos atravessado pelo Halloween. Porque não, se temos garantida a memória? Só temos de ter medo da fantasia das bruxas se não soubermos guardar o nosso passado.