Relação indo-africana: tempo de expandir horizontes

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Ahistória estreitou a relação Índia-África: dos investimentos e comércio de longa data aos laços socioeconómicos, culturais e políticos; do Império Mogol à luta contra o apartheid e o colonialismo, os 10% de indianos que vivem em África estreitam esta relação, forjada num caminho de cooperação multifacetado, assente na solidariedade Sul-Sul.

Em 2013, 16% do investimento direto estrangeiro da Índia concentrou-se em África, comparativamente a economias emergentes como o Brasil e a China, com, respetivamente, 9% e 0,8%. África foi o maior recetor da cooperação técnica indiana: no ano passado, o continente beneficiou de dois milhões de dólares em parcerias de desenvolvimento, com grandes beneficiários como a Etiópia, o Senegal e a República do Congo. À oferta de linhas de crédito de 7,4 mil milhões de dólares nas áreas da engenharia e energia somaram-se 25 000 bolsas de estudo, fruto da II Cimeira Índia-África. O número de estudantes africanos em instituições terciárias já excede os 6000 e África conta com iniciativas ligadas à formação e desenvolvimento de competências, das TIC à segurança. Resultados impressionantes, já que, em dez anos, o PIB total de África ultrapassou o da Índia. Esta cooperação pode ir mais longe e a III Cimeira Índia-África demonstrou que é preciso expandi-la.

Em 2050, as duas regiões perfarão cerca de 43% da população mundial, potencial de impacto sobre a geopolítica atual: o comércio aumentará, bem como a potencialização de investimentos de base comum (os dividendos demográfico e urbano de ambas), justificados pelos seus mercados e pela nova geração de consumidores de classe média. Os parceiros serão a fonte da juventude mundial, o que se traduzirá num poder colossal sobre a força de trabalho e o aumento do consumo. No comércio, África representa 11% e 9% de exportações e importações indianas, respetivamente, enquanto as exportações indianas para África passaram de 8,1% para 10,9%. Comparadas estas percentagens com o volume total de comércio com o resto do mundo, os números são relativamente baixos, apesar dos atuais 75 mil milhões de dólares de comércio entre os dois parceiros, fazendo da Índia o 3.º maior parceiro comercial de África. Tendências revelam que um elevado volume do comércio se concentra nos bens primários, em apenas alguns países africanos, significando que a expansão do comércio e o apoio à produção fabril teriam um maior impacto sobre as regiões - o sonho de Mahatma Gandhi: uma troca de "ideias e produtos, não de matérias-primas transformadas em produtos manufaturados, o modelo dos exploradores ocidentais".

África está a transformar-se numa plataforma financeira de investimentos indianos e num mercado gigantesco para a exportação indiana de produtos farmacêuticos; se só no ano passado cerca de um quarto das exportações indianas destes produtos seguiu para África, imagine-se o que faria o investimento na formação, produção farmacêutica local e fabrico de fármacos. Desbravava-se caminho para os sistemas de saúde africanos, empregos modernos, estimular-se-iam atividades económicas e, em muitos casos, a produção aumentaria. Na agricultura: dado que as regiões são similares, a segurança alimentar em África melhoraria com a réplica da revolução verde indiana, fortalecendo-se a colaboração no desenvolvimento de competências, no agroprocessamento e nos produtos/tecnologias inovadores. Este foi o apelo dos presidentes africanos junto do primeiro-ministro indiano.

Nem tudo se fica pelo investimento indiano em África: os 26% dos stocks de investimento africano direto estrangeiro na Índia geraram grande surpresa, percentagem superior à de Brasil, China, Rússia ou EUA. Esta tendência pode aumentar, se reunidos esforços para induzir mais investimento africano na Índia, usando uma força económica real em vez das meras transações financeiras atuais, estas, por vezes, nichos de evasão fiscal.

Urge maior compreensão das complementaridades Índia-África, na visão partilhada de uma Índia vibrante e de uma África ressurgente: este foi o caminho de Nova Deli.

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