Um acaso feliz do calendário faz coincidir a realização do Fórum da Cooperação para o Desenvolvimento, que amanhã tem lugar em Lisboa, com o Dia de África, que assinala a criação, em 25 de maio de 1963, da Organização de Unidade Africana, sucedida pela atual União Africana..Dois acontecimentos relevantes, com forte tónica africana, já que o Fórum se pretende instrumento privilegiado da cooperação portuguesa - claramente orientada para África - na mobilização dos representantes da administração local, ONG, mundo empresarial, com vista à promoção de maior coerência, eficácia e eficiência das políticas na área do desenvolvimento..O encontro representa um passo importante num processo de consultas que tem marcado a apresentação do novo modelo de cooperação portuguesa, inspirado na nova agenda multilateral para o Desenvolvimento - a Agenda 2030, adotada em 2015 pelas Nações Unidas - mas sem esquecer a tonalidade própria que caracteriza o nosso relacionamento neste domínio e incorporando as lições aprendidas ao longo das últimas décadas, ilustrativas da urgência de proceder a mudanças mais aptas a responder a um mundo crescentemente complexo, interdependente e confrontado a novos desafios..A mudança de paradigma mais relevante da Agenda 2030 respeita à vinculação de todos os países ao cumprimento de 17 objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS), no essencial distribuídos por três pilares, a saber, económico, social e ambiental..É pois na intersecção de uma renovada arquitetura internacional para o desenvolvimento e de um contexto nacional neste domínio marcado por vulnerabilidades que importa ultrapassar, que o novo modelo de cooperação tem vindo a ser afinado e materializado nos programas estratégicos de cooperação em negociação com países parceiros..Princípios claros, abordagens e instrumentos inovadores dão corpo ao modelo de cooperação portuguesa que o governo está a implementar..Os novos programas de cooperação pautar-se-ão por uma acrescida concentração de projetos, mas de maior envergadura e de visibilidade reforçada. Orientados por uma conceção progressivamente menos assistencialista, apostam fortemente na capacitação institucional e humana e na mobilização do investimento e promoção do comércio, do mesmo passo assegurando o seu alinhamento com as novas diretrizes internacionais, mediante identificação dos ODS a que respeitam, avaliação exigente e estabelecimento de parcerias..Porque entendemos que o compromisso dos países destinatários da cooperação com os programas/projetos é prioridade fundamental para garantir aderência à realidade, efeitos reprodutivos duradouros e crescimento sustentado, queremos a sua participação mais ativa no processo de negociação..Estamos cientes de que para inverter as consequências negativas da acentuada redução da ajuda pública ao desenvolvimento portuguesa é indispensável diversificar fontes financeiras, recorrendo mais a fundos europeus, mecanismos financeiros das instituições multilaterais, procurement e blending (alavancagem de financiamento externo e/ou privado) e ao financiamento privado. Acreditamos nas virtualidades da partilha de experiências e competências e estamos a concluir um conjunto de parcerias com agências de cooperação estrangeiras. Queremos o envolvimento forte do setor empresarial, academia e ONG..Por último, em ordem que não em importância, procuramos oportunidades de cooperação em novas geografias, sem prejuízo da orientação privilegiada para os países de língua portuguesa..O sucesso da concretização deste modelo de cooperação obriga a um compromisso duradouro com políticas públicas claras, liderança, coerência e a convocação de uma filigrana de atores e de organizações cujo contributo ativo se assume como indispensável..Secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação