Trumpistas, uni-vos
O principal momento da bizarra convenção daquilo que um dia se chamou partido republicano não foi o plágio de Melania Trump. Aliás, é pena que esse patético episódio tenha ofuscado o mais importante e, infelizmente, merecido pouca atenção dos media: quando Chris Christie subiu ao púlpito e pôs a plateia aos berros a pedir a prisão de Hillary. Isto, mais do que o plágio, é que reflete o estado do GOP: um partido com o ódio à flor da pele contra todas as alíneas do cardápio embrulhadas por Trump numa espécie de discurso político nacional. A verdade é que ele não inventou nada, só destapou e amplificou por meios que domina bem. E que alíneas são essas? Primeira, ausência total de respeito por instituições, regras, compromissos e diálogo bipartidário, o que antecipa, em caso de vitória, um bloqueio constitucional permanente. Segunda, a constante incitação ao ressentimento contra um país gerado e ampliado por constantes vagas de imigração, o que cristaliza o eleitor branco e radical na agenda do partido. Terceira, o incontido fascínio pelo justicialismo popular e que perpetua a força da NRA. Quarta, um puritanismo religioso, racial, nos costumes e nas afinidades das relações externas. O GOP que já tinha sido canibalizado pela narrativa mais intolerante do Tea Party está agora consumido por outra que arrumou, por tempo indeterminado, o conservadorismo moderado na gaveta. As ausências na convenção de muitos herdeiros desta linha mostram bem que tão cedo não terão espaço no partido. Mas há um outro motivo de interesse que também passou despercebido e que deveria interessar sobretudo aos europeus. A presença de Nigel Farage e do líder da extrema-direita holandesa, Geert Wilders, em marcha para a vitória nas legislativas de 2017. Afinidades, cumplicidades, alinhamentos. Só faltaram Orbán, Le Pen e Putin para ter sido a "trumpalhada" perfeita.