Não parece inteiramente exata a afirmação de que os direitos humanos são "uma invenção recente na escala da história", bastando recordar a doutrina documentada pelo ensino nas universidades ibéricas logo na data da expansão dos impérios português e castelhano, um partindo para o Oriente, outro para Ocidente, para finalmente se encontrarem, nem sempre amistosamente, nos mares da China. Mas é um facto que as Declarações atualmente em vigor são descendentes da Declaração de Independência Americana de 1776, da Francesa de 26 de agosto de 1789, hoje, como forma de ambição globalizante, na Declaração Universal da ONU, de 1948. Infelizmente, sendo todas de inspiração e feitura ocidental, a leitura e a aplicação pelas áreas culturais do mundo, e pelos poderes políticos regentes, que ganharam a descolonização, além de perceberem que o texto de 1948 tem apenas o valor de uma declaração, leram diferentemente as mesmas palavras - por exemplo, direito de propriedade e conceito de família - acontecendo ainda que os Pactos de 1976, sobre direitos civis e políticos, e direitos económicos, sociais e culturais, são imperativos apenas para os Estados que os ratifiquem. Foram depois publicados vários, com incansáveis juristas, acompanhando a Amnistia Internacional, e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos do Homem, a tentar que sejam respeitados e aceites, sem que, regionais ou mundiais, tornem realmente efetiva a proteção de crianças, mulheres, refugiados, e agora os imigrantes que designadamente procuram futuro na Europa suposta rica, e morrem no Mediterrâneo sem afetar os lucros da criminalidade que organiza as migrações. Se grande parte dos mecanismos internacionais organizados depois da guerra são manifestamente frágeis no sentido de levarem os poderes políticos a cumprir com normas promulgadas, uma fraqueza que financeiramente atinge hoje os governos dos antigos colonizadores, se não foi sequer possível que um conceito partilhado de paz impedisse que milhares de crianças participem como combatentes nas guerras que se multiplicam "por toda a parte", nesta data, e pelo que toca à Europa, é o problema dos pobres que são cidadãos, e dos imigrantes, para cujo acolhimento e auxílio lhe escasseiam recursos, que particularmente angustiam a opinião pública que ainda venera a solidariedade, e leva os responsáveis a pensar na segurança antes do humanitarismo. As perguntas sem resposta são inúmeras. Ainda é reformável a ONU? O turbilhão global é dominável? A igualdade dos Estados pede nova invenção? O fim da fome é definitivamente um ato piedoso? A comunicação social apoia a impersonalidade? É possível a coexistência pacífica e até colaborante das culturas e das religiões? A ameaça ambiental pode ser detida? A União Europeia pode alcançar um conceito estratégico unificador? O terrorismo é dominável? Os direitos humanos encontrarão um paradigma universal e obedecido? Os utilitaristas definitivamente produziram a capacidade da destruição e os humanistas deixar-se-ão conduzir para a indiferença? Faltam as vozes encantatórias, como foram as de Gandhi e Mandela, e dos fundadores da União Europeia, neste ambiente ameaçador que exige a voz da universidade, livre, criativa, responsável, carismática, atendida. Trata-se da quarta dimensão da Universidade, título de um livro do antigo reitor de Coimbra Prof. Seabra, investigar o globalismo para além da semântica, assumindo a transdisciplina, para reconhecer as redes, as interdependências, os poderes efetivos e em grande parte desconhecidos, e para restabelecer o credo dos valores que sejam o eixo da roda do avanço da estratégia do saber, não orientada para a supremacia das potências, mas para o reconhecimento de que cada homem é um fenómeno que não se repete na história da humanidade e que exige um efetivo respeito pelos direitos humanos.