Tsipras desafia Bruxelas e consegue aprovar bónus para pensionistas
A Grécia deu ontem um sinal claro de que não vai ceder às pressões de Bruxelas, com o Parlamento a aprovar o pagamento de um bónus aos pensionistas mais desfavorecidos. Uma medida anunciada esta semana por Alexis Tsipras e que levou os credores, na quarta-feira, a suspenderem o acordo para um alívio a curto prazo da dívida grega.
Esta medida - aprovada com 196 votos a favor e a abstenção de Nova Democracia, To Potami e União dos Centristas - deverá custar 617 milhões de euros e prevê o pagamento de um bónus entre os 300 e os 830 euros aos pensionistas que recebam até 850 euros mensais. Ou seja, 1,6 milhões de gregos que deverão receber este aumento extraordinário, e único, no próximo dia 22.
À entrada para o Conselho Europeu, o primeiro-ministro grego disse que esperava que avançassem "sem chantagens" as medidas de alívio da dívida grega acordadas pelo Eurogrupo mas, entretanto, postas em causa. "Creio que podemos ter um avanço sem chantagem e no respeito da soberania de cada país", sublinhou Tsipras.
O líder grego recebeu o apoio do presidente francês, que disse esperar "que a Grécia seja tratada com dignidade". "Não podemos pedir à Grécia esforços adicionais ou impedir que tomem algumas decisões soberanas que respeitem os compromissos feitos aqui em Bruxelas para encontrar uma solução para o futuro da Grécia", declarou François Hollande.
O ministro das Finanças francês, Michel Sapin, foi taxativo e garantiu que o Eurogrupo irá manter a sua decisão, pois este "pronunciou-se claramente e decidiu, sem condicionamentos, que se aplicariam disposições para a redução da dívida grega no curto prazo".
No dia 5, os ministros das Finanças da zona euro acordaram algumas medidas para aliviar a dívida grega no curto prazo, designadamente a nível dos prazos de pagamentos dos empréstimos dos parceiros europeus e taxas de juro aplicadas.
Mas o anúcio de Tsipras sobre o bónus para os pensionistas levou o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, através de um porta-voz, a anunciar que "as instituições concluíram que as ações do governo grego não parecem estar em linha com os nossos acordos" e que, por isso, "agora não há unanimidade para implementar as medidas de curto prazo".
O Syriza não lucrou em termos de popularidade com o anúncio da atribuição do bónus aos pensionistas. De acordo com uma sondagem da MRB publicada na quarta-feira, a Nova Democracia tem 26,1% das intenções de voto, enquanto que o partido de Alexis Tsipras não vai além dos 14,7%.
No primeiro estudo de opinião do mês, feito pela MRB antes do anúncio do governo, a Nova Democracia liderava com 29,1%, seguido do Syriza, com 16,2%. Os neonazis da Aurora Dourada surgiam em terceiro (8,3%), à frente da Coligação Democrática - composta por PASOK e Esquerda Democrática - com 6,5%, dos comunistas do KKE (6,4%), Navegando pela Liberdade - o partido fundado por Zoe Konstantopoulou, a ex-presidente do Parlamento que abandonou o Syriza no verão de 2015 - surgia com 3,1% e a União dos Centristas tinha 3%.