O presidente norte-americano, Donald Trump, cancelou ontem o acordo que considerou "unilateral" de abertura com Cuba, assinado pelo predecessor Barack Obama. Entre as medidas incluídas na ordem executiva que assinou está a aplicação mais rigorosa da proibição de os cidadãos dos EUA viajarem por turismo até à ilha, assim como um travão aos negócios com as empresas controladas pelos militares cubanos e a garantia que não será levantado o embargo. "Conseguiremos uma Cuba livre", disse num discurso em Miami.."Os lucros dos investimentos e do turismo fluem diretamente para os militares", disse o presidente, argumentando que não quer que "os dólares norte-americanos apoiem o monopólio militar que explora e abusa dos cidadãos de Cuba". O principal alvo é o Grupo de Administração Empresarial SA (GAESA), um império económico do exército cubano que é gerido pelo general Luis Alberto Rodríguez López--Calleja, genro do presidente Raúl Castro. Entre as cerca de 60 empresas do grupo estão, por exemplo, a Almacenes Universales (que gere o porto de Mariel) ou a Habaguanex (dona dos hotéis, lojas e restaurantes de Havana Velha, entre outros). No total, segundo a Reuters, a GAESA controla entre 40% e 60% das receitas em moeda estrangeira..Mas, face à pressão de várias empresas norte-americanas, companhias aéreas e de cruzeiro estão isentas desta situação. Contudo, ainda poderão ser afetadas com a diminuição do número de passageiros. Segundo as contas cubanas, até final de maio tinham visitado a ilha 285 mil cidadãos norte-americanos, tantos quantos os que visitaram Cuba durante todo o ano de 2016 (o que tinha representado um crescimento de 75% em relação a 2015), e calculava-se que no final de 2017 o número pudesse superar os 400 mil..Apesar de os norte-americanos estarem proibidos de fazer turismo na ilha, Obama tinha autorizado viagens individuais com propósitos educacionais - que eram muitas vezes usadas como desculpa. Agora Trump proíbe-as. Cubano--americanos podem, contudo, continuar a viajar livremente, assim como a enviar remessas..Debaixo dos aplausos de muitos exilados cubanos no Teatro Manuel Artime (um dos líderes da falhada invasão da Baía dos Porcos, em 1961), em Little Havana, Trump explicou contudo que não vai cortar relações diplomáticas nem tirar a embaixada de Havana. Durante as primárias republicanas, Trump considerou "bom" reatar as relações diplomáticas com Cuba, apesar de alegar que os norte-americanos e cubanos não ganhavam muito com isso. Contudo, na campanha para as presidenciais, endureceu a sua posição, prometendo reverter as decisões de Obama.Ontem, num discurso cheio de ataques ao governo cubano que muitos consideraram um retorno a uma retórica de Guerra Fria, Trump disse que os EUA não vão ficar "mais em silêncio face à opressão comunista". Só quando Havana der "passos concretos" é que os EUA estão dispostos a renegociar um acordo melhor para ambos os povos. Entre esses passos estão a libertação dos presos políticos, a legalização dos partidos e a celebração de eleições livres com supervisão internacional. Raúl Castro já disse que deixará o poder em fevereiro, no fim do segundo mandato..O presidente falou ainda dos "crimes do regime de Castro" e do "sofrimento dos cubanos durante seis décadas". Críticos apressaram-se a lembrar que os direitos humanos não estiveram na agenda de Trump no seu encontro com o líder chinês, Xi Jinping, ou na viagem à Arábia Saudita.