Temer desiste de ir a Portugal para ultimar saída do governo

Previsto em seminário em Lisboa, vice-presidente e líder do PMDB deve acertar divórcio de Dilma e impulsionar o <em>impeachment</em>
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O PT, de Dilma Rousseff, presidente da República, e de Lula, assessor da chefe de Estado enquanto não assume em definitivo o cargo de ministro da Casa Civil, já dá como perdida a batalha de sedução política do PMDB, o maior dos partidos da sua base parlamentar de apoio com vista ao bloqueio do impeachment. Um sinal desse estado de espírito foi a demissão recente de Antônio Pires, indicado pelo vice-presidente, o peemedebista Michel Temer, para o cargo de líder da Funasa, instituição pública relacionada com a saúde da população indígena. Temer cancelou a viagem marcada para Lisboa para ultimar o divórcio com o PT.

"A demissão do presidente da Funasa é como se o PT soubesse do inevitável e estivesse a querer dar o primeiro tiro", disse o comentador da Rede Bandeirantes Ricardo Boechat. "Retirar um membro de um partido que se move por indicações, que vive de se alimentar na teta do Estado, como o PMDB, porque ninguém acredita que os peemedebistas estejam interessados na saúde dos índios, é uma declaração de guerra, porque o problema deste país é que continua a alimentar de cargos públicos estas quadrilhas partidárias", concluiu.

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Também o diretório do PMDB do Rio de Janeiro, o maior do país, já retirou oficialmente o apoio ao governo. Com isso, o partido torna, por agora, a missão de Lula, que independentemente da controvérsia em torno do foro privilegiado queria assumir a Casa Civil para garantir a fidelidade do PMDB, irrealizável. E nas contas do impeachment pode tornar difícil a posição de Dilma, uma vez que o seu cada vez mais ex-aliado é a maior força parlamentar brasileira.

É dado como adquirido que a Comissão do Impeachment, constituída por 65 deputados, vai dar sequência ao processo. A seguir, os 513 deputados votam pela destituição ou não da presidente, bastando-lhe 172 votos. A contagem de espingardas continua mas com resultados imprevisíveis. A Ordem dos Advogados do Brasil, entretanto, entrou com mais um pedido de impeachment na Câmara, baseado em "questões puramente técnicas".

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Durante os próximos dias, Michel Temer, que iria participar no Seminário Luso-Brasileiro de Direito em Portugal com Gilmar Mendes, juiz do Supremo Tribunal, Aécio Neves, presidente do oposicionista PSDB, e outras lideranças, deve anunciar o rompimento formal da aliança PT-PMDB. Caso Dilma caia, é ele quem assume a presidência, de acordo com a Constituição brasileira.

Apesar de cada vez mais isolada, Dilma disse ontem em entrevistas a jornais internacionais que não é "uma líder fraca". E reafirmou que quem pede a sua renúncia "é quem não acredita que o impeachment vá prosperar", classificando a iniciativa de "uma tentativa de golpe".

Nas ruas, as manifestações a favor ou contra o governo continuam. Ontem, em cinco cidades do Brasil, houve protestos "contra o golpe" em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, entre outras.

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Horas antes a revista norte-americana Fortune havia considerado o juiz Sérgio Moro a 13.ª pessoa mais influente do mundo, numa lista que inclui Jeff Bezos, da Amazon, e Angela Merkel, chanceler alemã. "Pelo menos estou à frente do Bono", reagiu o homem que lidera a Operação Lava-Jato, que investiga o escândalo de corrupção na estatal Petrobras.

A Lava-Jato chegou a mais um estádio do Mundial 2014. Depois da Arena Corinthians, em São Paulo, também o Beira-Rio, em Porto Alegre, apresenta indícios de irregularidades. A Odebrecht, maior construtora do país, cujo presidente está preso desde junho, participou das obras.

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São Paulo

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