Nos últimos dias, as ruas de Damasco e de outras cidades em regiões sob controlo do regime sírio encheram-se de cartazes dos perto de 12 mil candidatos às legislativas de hoje. Em jogo estão os 250 lugares do parlamento, ou Conselho do Povo, como lhe chamam. A votação coincide não só com a preparação da ofensiva das forças do presidente Bashar al-Assad - apoiadas pela Rússia - contra Aleppo, um dos feudos do Estado Islâmico. Mas também com o recomeço das negociações de paz sob a égide da ONU, previsto para hoje em Genebra..Apesar das garantias de Assad de que o grande número de candidatos prova que estas eleições não são o "embuste" que a oposição denuncia, a verdade é que o facto de apenas se realizarem em zonas controladas pelo regime deixam poucas dúvidas sobre os resultados e a vitória anunciada do Baas. Ouvido pela Euronews, o presidente da Comissão Eleitoral, Hisham Al-Shaar, explicou que estão a instalar urnas de voto também nas "províncias onde se registam problemas de segurança, como Aleppo ou Deir Ezzor", para "não privar nenhum cidadão do direito de voto"..[artigo:5029526].Com 11 milhões de pessoas forçadas a deixar as suas casas (4,5 milhões refugiadas fora do país) desde o início dos conflitos entre forças do regime e rebeldes que exigiam a queda de Assad, a verdade é que estas eleições dificilmente podem ser consideradas representativas da vontade do povo sírio. O conflito, que fez mais de 250 mil mortos, transformou-se entretanto numa guerra de todos contra todos, com os rebeldes a subdividirem-se numa infinidade de grupos, a que se junta a Frente al-Nusra, fiel à Al-Qaeda, e o Estado Islâmico, o grupo de Abu Bakr al-Baghdadi, que controla uma boa parte do território sírio e iraquiano..Para o presidente francês, François Hollande, estas eleições são uma "provocação" e "totalmente irrealistas". Já o principal grupo de oposição apoiado pelo Ocidente, a Coligação Nacional Síria, apelou aos eleitores para boicotarem o escrutínio, argumentando que a guerra civil não vai terminar graças a "projetos unilaterais", mas sim através de uma transição política negociada envolvendo todos os sírios..Violência ameaça cessar-fogo.Enquanto as ruas se enchem de cartazes eleitorais, a violência ameaça o cessar -fogo assinado em fevereiro. Paris alertou ontem para o facto de a ofensiva do regime para recuperar Aleppo ao Estado Islâmico poder pôr em perigo a trégua no país e, por conseguinte, as negociações de paz. Uma preocupação partilhada pelo Irão, um dos principais apoios internacionais de Assad. Depois de um encontro em Teerão com o enviado especial da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Hossein Amir-Abdollahian, culpou as "crescentes atividades de grupos armados" pelas violações ao cessar-fogo..[artigo:5110469].Envolvida no apoio às forças do regime, a Rússia perdeu ontem dois pilotos que morreram na queda do seu helicóptero perto da cidade de Homs. O aparelho, um M-28-H, não terá sido abatido, garantiu o Ministério da Defesa russo. Em setembro, Moscovo decidiu entrar na guerra na Síria, passando a realizar bombardeamentos aéreos contra os grupos que combatem o exército fiel a Assad. Em meados de março, as autoridades russas anunciaram a retirada da maior parte das forças da Síria, sublinhando, contudo, que os ataques aéreos prosseguiriam.