Sánchez pede um mês para negociar e formar governo
O secretário-geral do PSOE, Pedro Sánchez, deu ontem o primeiro passo - graças ao empurrão do rei Felipe VI - no caminho que o poderá levar ao Palácio da Moncloa. Mas tem consciência de que pela frente tem uma tarefa árdua, pedindo um prazo de três semanas a um mês para poder negociar um acordo de governo que permita sobreviver ao debate de investidura. "Todas as forças da mudança são chamadas a entender-se para que a mudança seja realidade", disse Sánchez.
No final da segunda ronda de contactos com todos os partidos, o rei decidiu propor o nome de Sánchez para o debate de investidura. "Obrigado senhor, obrigado majestade, agradeço e aceito", terá sido a resposta do líder do PSOE ao convite de Felipe VI, segundo fontes da Casa Real citadas pelo jornal La Vanguardia. Um convite feito por telefone, depois de o líder do Partido Popular (PP), Mariano Rajoy, ter repetido que não contava com os apoios necessários para conseguir a aprovação do Congresso. "Disse ao rei que ainda não tenho maioria para tentar formar governo porque o PSOE se nega ao diálogo, que é prévio ao acordo. Eu não posso garantir um governo estável", referiu, sem renunciar à investidura.
[citacao:Eu não sou Rajoy, levo as coisas a sério. Espero que os outros também levem a sério]
"Eu não sou Rajoy, levo as coisas a sério. Espero que os outros também levem a sério", afirmou Sánchez em conferência de imprensa, após ser conhecida a decisão do rei. O líder socialista disse querer governar "desde o diálogo e em benefício da maioria", defendendo contudo que "a regeneração que pedem os espanhóis passa pela regeneração do PP, que só virá com este partido na oposição". E não poupou críticas a Rajoy, que acusou de querer usar o PSOE para "justificar o escapismo"de não conseguir chegar a acordos. "Desde 20 de dezembro não fez nenhum esforço para os ganhar".
Mas as contas também não estão fáceis para Sánchez, que só conseguiu eleger 90 deputados nas eleições de 20 de dezembro - num Congresso onde são precisos 176 votos para ter a maioria. Nos 40 dias que passaram desde as eleições, as posições dos outros partidos têm sido claras. O PP (123 deputados) já disse que votará contra qualquer governo que não seja liderado por Rajoy. O Podemos (69 deputados) propõe um acordo a três que envolva a Esquerda Unida (dois deputados), tendo exigido vários cargos (incluindo a vice-presidência do governo para Pablo Iglesias). E diz ser "impossível" qualquer acordo que também envolva o Ciudadanos, de Albert Rivera (40 deputados), com Iglesias a alegar que isso é "pactuar com o PP em diferido".
Sánchez indicou que começará já hoje as negociações com todas as forças políticas - mesmo o PP e os independentistas catalães, nem que seja para dizer que não concorda com o que defendem. E pediu às restantes forças políticas que "abandonem os vetos". Rivera, que se congratulou com o facto de haver "finalmente" um candidato, mostrou-se disponível para alcançar um "governo com garantias parlamentares". Horas antes, o partido admitia "suavizar" as suas posições, estabelecendo como única linha vermelha o respeito pela soberania nacional.
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O presidente do Congresso, Patxi López, que ontem anunciou a decisão do rei, indicou que o socialista lhe pediu um prazo de três semanas a um mês para negociar, antes de ser marcado o debate de investidura, o que considerou "razoável". Isto tendo em conta que, no Comité Federal do passado sábado, Sánchez anunciou que qualquer acordo de governo terá que ter o aval dos militantes. A partir do debate de investidura começa a contar o prazo de dois meses para a eleição do futuro primeiro-ministro, sob a ameaça de serem necessárias novas eleições.
Consultas
O convite oficial do rei a Sánchez foi feito por telefone, depois de, na reunião da manhã, o líder socialista ter dito que o PSOE estava "disposto" a formar governo se Rajoy voltasse a recusar ir ao debate de investidura. "Se o senhor Rajoy renuncia ao que entendemos ser sua obrigação, o PSOE dará um passo em frente e tentará formar governo e tirar a democracia e as instituições espanholas desta situação de bloqueio", afirmara Sánchez na primeira conferência de imprensa do dia, depois do encontro com o rei.
O primeiro-ministro em funções esteve menos de uma hora com Felipe VI. "O rei não me convidou para formar governo", afirmou depois, antes de ser conhecida a decisão do monarca, dizendo que iria respeitar qualquer que fosse a sua decisão. O líder do PP, que no final da primeira ronda de contactos tinha declinado o convite para o debate de investidura, repetiu que não retirava a candidatura (ficará agora à espera do falhando de Sánchez) . A sua aposta continua a ser num pacto com PSOE e Ciudadanos, "presidido pelo Partido Popular por ser a força política com mais votos".
De manhã, Sánchez aproveitou ainda para criticar o secretário-geral do Podemos, cuja proposta de coligação o surpreendeu durante a primeira ronda de contactos com Felipe VI, acusando Iglesias de "rudeza" e "arrogância". Depois de Rajoy falar, e ainda antes de ser conhecida a decisão do rei, Iglesias falou aos jornalistas e criticou os socialistas. "Pedro Sánchez está há dez dias sem responder à nossa proposta de governo e há 40 à espera de Rajoy. Por este andar, ficamos com cabelos brancos antes de formar governo", referiu.