PP vence mas tem de dialogar para ter um governo estável

Parlamento fragmentado torna complicado negociar e só a união entre PP e PSOE permite maioria absoluta a dois. Podemos fica em terceiro mas é o grande vencedor
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"Espanha precisa de um governo que tenha apoio parlamentar. Vou tentar formar um governo estável para servir os interesses dos espanhóis", disse ontem à noite o primeiro-ministro, Mariano Rajoy, depois de o PP ter sido o mais votado mas ter perdido um terço do eleitorado e a maioria absoluta. Negociar não será fácil num Parlamento fragmentado: o PP conquistou 123 deputados e o PSOE não foi além dos 90. O Podemos é o grande vencedor, elegendo 69 deputados e derrotando a outra formação emergente, o Ciudadanos, que se estreia em Madrid com 40 representantes.

O primeiro-ministro reconheceu que não será fácil formar governo: "Iniciamos a partir de agora uma etapa que não vai ser fácil, mas é nas dificuldades que se veem os políticos de verdade. Será necessário falar muito e dialogar ainda mais." O secretário-geral socialista, Pedro Sánchez, está aberto a negociações: "Abre-se uma nova etapa política em Espanha, que tem de abrir um novo processo de diálogo e o PSOE está disposto a dialogar e a debater."

O PSOE, que ganhou só na Andaluzia, teve o pior resultado de sempre, ficando pela primeira vez abaixo dos cem deputados. "Compete à primeira força política tentar formar governo", admitiu Sánchez.

Apesar do terceiro lugar, o Podemos foi o grande vencedor da noite. Desde logo porque, pouco mais de um ano após a formação, fica a menos de 400 mil votos do velho PSOE. Depois porque consegue mais 29 deputados do que o outro emergente. "Espanha inaugura uma nova etapa política", lançou Iglesias, repetindo a frase em inglês para os jornalistas estrangeiros que seguiram a campanha. O líder do Podemos, o mais votado na Catalunha e no País Basco, pediu uma reforma eleitoral que "respeite o critério de proporcionalidade" dos votos.

[citacao:Espanha inaugura uma nova etapa política]

O Ciudadanos, que há um ano deu o salto da Catalunha para a política nacional, passou de zero para 40 deputados. Mas o partido de Albert Rivera ficou aquém das expectativas. Ainda assim, o Ciudadanos "vai ser decisivo na formação de uma maioria que será capaz de mudar este país", alegou.

Cenários

Os números obrigam os partidos a fazer contas, sabendo-se que a única aliança a dois que permite a maioria absoluta é entre PP e PSOE. A lei diz que o candidato proposto pelo rei Felipe VI pode ser investido primeiro-ministro se tiver a confiança da maioria absoluta dos deputados na primeira votação ou da maioria simples (mais votos a favor do que contra) na segunda, 48 horas depois. Caso isso não aconteça, o monarca pode propor outros candidatos. E se passados dois meses não houver um primeiro-ministro, são convocadas novas eleições.

Uma eventual coligação entre PP e Ciudadanos só garante 163 deputados, mas a alternativa à esquerda entre PSOE e Podemos fica ainda mais longe da maioria absoluta (176 deputados). Mesmo que Sánchez estivesse a planear uma solução à portuguesa (uma união à esquerda para derrotar a direita), precisaria de mais votos. O ex-primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, felicitou ontem Rajoy pela vitória: "Espero, sinceramente, que a vontade dos eleitores espanhóis possa ser respeitada e que, nessa medida, possa ser bem-sucedido na formação do novo governo."

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Num cenário tão dividido, ganham poder os seis pequenos partidos regionais ou nacionalistas que juntos elegeram 27 deputados e poderão ser novamente decisivos para acordos de governo ou parlamentares.

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