A partir de 1 de janeiro de 2016, os direitos sobre "Mein Kampf", o livro em que Adolf Hitler enuncia as bases do programa nazi, caem no domínio público, o que significa que o governo da Baviera não poderá, como até agora, impedir reedições ou traduções da obra. Com o aproximar da data, surgem algumas inquietações acerca dos perigos de republicação do livro, quer por respeito para com as vítimas do Holocausto, quer por receios de incitação ao ódio.."O livro é perigoso. É uma caixa de Pandora", declarou há dias à AFP Charlotte Knobloch, presidente da comunidade judaica de Munique. Para ela, uma versão crítica representa um perigo de propaganda "porque contém o texto original". "Vimos recentemente até que ponto o potencial de ódio contra os judeus, de racismo e de xenofobia é considerável em nossa sociedade", alertou..Desde 2009, que o Instituto de História Contemporânea de Munique está a trabalhar numa reedição, a qual, além do texto original, terá comentários que ajudarão na contextualização e que darão conta de omissões ou de realidades distorcidas. Mesmo assim, o Governo da Baviera, que em 2012 decidira apoiar o projeto com 500 mil euros, decidiu, no ano seguinte, voltar atrás..Para o jornalista Sven Felix Kellerhoff, autor de um livro sobre a história do "Mein Kampf", a recusa em autorizar a publicação não fez mais que "mitificar" o texto.."É absolutamente necessário disponibilizar uma versão comentada séria do Mein Kampf ao público com fins educativos", disse, citado pela AFP..Já Barbara Zehnpfennig, cientista política partidária da possibilidade de ler o livro em uma versão não comentada, considera que "é muito importante estudar de forma exaustiva Hitler e sua concepção do mundo". "Somos adultos e estamos há 70 anos em uma democracia, acredito que podemos suportar ler um livro como este", opinou em declarações à AFP..Na Internet há pelo menos 20 versões de "Mein Kampf" disponíveis e acessíveis a qualquer um..Em janeiro, sairá esta edição crítica do Instituto de História Contemporânea de Munique, que terá duas mil páginas, 3,700 notas de rodapé e custará 59 euros, pelo que, esperam os que são contra a sua publicação, dificilmente será um best-seller..No palco, uma versão encenada do manifesto de Hitler está a cativar grandes audiências, segundo avança o The Guardian. "Adolf Hitler: Mein Kampf, Volumes 1 & 2" é uma espécie de teatro documental, que mostra a visão que existe da obra um pouco por todo o mundo: no Japão há versões em manga; na Índia é aconselhado aos alunos, como introdução à gestão moderna; na biblioteca da Baviera, onde existem 70 cópias, cada requisição é escrutinada..Adolf Hitler escreveu "Mein Kampf" em 1925, quando estava detido por traição à pátria, após uma tentativa frustrada de golpe de Estado. Até 1945, foram vendidas mais de 12 mil cópias do livro..Segundo o The Guardian, pesquisas de 1945 indicavam que um quinto dos alemães tinham lido a obra do início ao fim. No fim da Guerra, muitos terão queimado o livro e até o terão usado como papel higiénico.