Os 7 pecados mortais de Dilma

Na economia, quis repetir a receita de Lula mas, sob conjuntura adversa, interveio muito e mal. Na política, foi sabotada por um Congresso dominado pelo inimigo Eduardo Cunha.
Publicado a
Atualizado a

A soberba de achar que a receita de Lula duraria para sempre

Dilma Rousseff, embora com formação em Economia, não trouxe novidade nenhuma à receita do lulismo: aposta no entusiasmo de um mercado doméstico engordado pela chegada de 50 milhões de brasileiros ao consumo, na avidez da China pelas commodities do país, na super-protegida indústria nacional. Hoje, a indústria do Brasil sofre ao competir com as homólogas estrangeiras por falta de preparo; o preço das commodities caiu a pique; e os 50 milhões de novos consumidores têm dívidas até ao pescoço. A receita faliu e o governo Dilma não encontrou alternativa - a não ser intervir em demasia.

A preguiça de pensar que intervir na economia bastaria

Com os indicadores económicos a deteriorarem-se, a equipa de Dilma começou então a intervir a torto e a direito. Quase sempre a torto. Diminuiu cargas tributárias em determinadas indústrias, penalizou outras, baixou a conta de luz, aumentou-a a seguir, legislou, proibiu, regulou, desregulou, mexeu, mudou, voltou atrás. Resultado: transformou a economia do país num caos. Com a tal conjuntura adversa como pano de fundo, isso resultou na maior recessão do país e na demissão de Guido Mantega, o primeiro ministro da Fazenda da Era Dilma.

A gula pelo poder ao mentir sobre a situação do país em campanha

Dilma não foi a primeira candidata à reeleição a mentir sobre a situação do país nem será a última. João Santana não é o único marqueteiro capaz de glorificar clientes e desconstruir inimigos. Mas caiu mal aos eleitores que a presidente defendesse Mantega em campanha com toda a convicção e dias depois de eleita convidasse o austero Joaquim Levy, conselheiro do rival Aécio Neves e crítico da gestão do antecessor, para o lugar. Levy, esgotado pela crise com epicentro no Congresso, caiu entretanto e deu lugar ao rival Nelson Barbosa.

Deixar que a ira contra Eduardo Cunha a consumisse

A crise no Congresso resultou de um embate temerário com Eduardo Cunha. Dilma não gostava de Cunha mas Cunha odiava Dilma. E a presidente subestimou a capacidade de odiar do evangélico presidente da Câmara dos Deputados. No passado, Dilma demitira um boy de Cunha de um job apetitoso. Cunha estaria disposto a perdoar, se Dilma o apoiasse na eleição para a presidência da Câmara. Em vez disso, a presidente preferiu lançar um candidato do PT. Perdeu. Por muitos. Cunha sentiu-se então à vontade para aprovar "pautas bomba" - decretos leis que aumentaram em milhares de milhões de reais as despesas públicas numa era em que a dupla Dilma-Levy buscava apertar o cinto - e para criar um contra-poder na casa, ao lado da oposição e dos deputados insatisfeitos da base aliada. Quando Dilma quis finalmente corrigir a condução económica, Cunha e a sua tropa não deixaram.

A avareza na hora de delegar poderes entre os aliados

Para o poder de Cunha na Câmara não bastou a força do PMDB nem a conivência da oposição. O líder legislativo teve como apoio o número crescente de insatisfeitos da base de apoio de Dilma. A presidente, apesar de chefiar um governo de 39 ministros, rodeou-se de núcleos mínimos de poder, compostos por petistas de perfil técnico e eficiente, como ela. Por causa disso, partidos como PP, PR e outros da base de sustentação do governo a quem ela agora suplica votos, nunca se sentiram, de facto, poder, ao contrário do que sucedia na era do agregador e dialogante Lula da Silva.

A inveja do poder oculto do poderoso PMDB

Além dos partidos de médio porte, o porta-aviões PMDB também se sentiu figurante, sob Dilma. Ou como uma "figura decorativa", para usar a expressão do seu vice-presidente Michel Temer, homem que construiu a vida pública em conspirações de bastidor. Com a base de apoio a desfazer-se, Dilma foi aconselhada então a recorrer a Temer como ponte entre ela e o Congresso. Mas a meio do caminho, conselheiros da presidente, como o ex-chefe da casa civil e hoje titular da educação Aloizio Mercadante, passaram, por ciúme, a minar o trabalho do vice. O resultado foi uma traição de Temer, amparado em Cunha, do tamanho do Brasil.

Depois de chegar aos 78%, sentiu a luxúria da popularidade

Ninguém diria que a mulher que hoje tem o vice-presidente e o presidente da Câmara como inimigos declarados; que conseguiu juntar oposição e base de apoio nas críticas ao governo; e que até irrita o PT puro e duro, que lhe atribui o princípio do fim do seu consulado no poder, teve um dia índices "lulistas" de popularidade: chegou aos 78%, a meio da "limpeza ética", o período da sua presidência em que demitiu sete ministros por corrupção. Considerada honesta até por inimigos figadais, foi ironicamente sob a sua gestão que o maior escândalo de corrupção do Brasil, o Petrolão, deu à luz.

São Paulo

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt