Nenhum jornal apoiou Trump depois de ser o candidato oficial

Nas primárias republicanas, quatro jornais apelaram ao voto no magnata. Um deles pertence ao seu genro. USA Today foi o último a dizer que Trump não pode ser presidente
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Na era das redes sociais, obter o apoio de um jornal pode parecer pouco relevante para um candidato à Casa Branca. Mas não quando, depois de obter a esperada bênção do The New York Times e de ver o Cincinnati Enquirer quebrar uma tradição centenária e apelar ao voto num candidato democrata, a ex-primeira-dama viu o USA Today, o diário de maior circulação nos EUA, pôr fim à tradição de neutralidade com um editorial no qual garante que Donald Trump é "impróprio para a presidência".

A menos de mês e meio das presidenciais americanas, marcadas para 8 de novembro, o candidato republicano conta apenas com o apoio de quatro jornais, o National Enquirer, o The New York Observer, o New York Post e o Santa Barbara News-Press. Todos eles apelaram ao voto em Trump antes de o milionário assegurar a nomeação do partido na convenção de finais de julho em Cleveland, Ohio.

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A recuperar nas sondagens depois do primeiro debate entre os candidatos presidenciais na segunda-feira, Hillary surge com 66,3% nas hipóteses de vencer calculadas por Nate Silver no site FiveThirty- Eight, contra 33,6% para Trump. Numa corrida tão renhida nada garante, no entanto, que esta tendência se mantenha. E, perante um adversário cujas declarações bombásticas lhe garantem espaço nos media, receber o apoio de jornais, sobretudo de alguns de matriz conservadora, pode ser determinante para a ex-primeira-dama.

Um estudo recente da Northwestern University, liderado pelo economista Agustin Casas, revelou que "apoios surpreendentes" podem ter impacto numa corrida presidencial moderna. Analisando dados de 2008 e 2012, as duas últimas presidenciais, Casas e a sua equipa de investigadores concluíram que, "se o estilo retórico do editorial se afastar muito do estilo de cobertura noticiosa habitual no jornal, o apoio pode confundir mais do que informar os seus leitores", mas, se "o apoio for estilisticamente consistente mas ideologicamente surpreendente, pode fazer efeito junto do leitor".

Tendo em conta estes dados, a New York Magazine admite que neste ano Donald Trump "vai conseguir fazer que o apoio dos jornais volte a contar" na decisão de quem vai suceder a Barack Obama na Casa Branca a partir de janeiro. Das publicações que o apoiam, uma - o The New York Observer - pertence ao seu genro, Jared Kushner, casado com Ivanka Trump. Em abril, o jornal comparou o milionário a Ronald Reagan, recordando que em 1980 este afirmou que "chegou a hora de uma liderança forte" e que hoje Trump diz que chegou a hora de tornar a América grande outra vez. "Concordamos", rematou em editorial.

No caso do National Enquirer, que declarou o apoio a Trump em março ainda em plenas primárias republicanas, David Pecker, diretor do grupo editorial American Media, Inc., que engloba esta publicação, não só é amigo pessoal do magnata como este o terá mesmo recomendado para ser o próximo CEO da revista Time.

Trump, que disputa neste ano a primeira eleição da sua vida, orgulha-se de ser um outsider sem experiência política. Sem medo das palavras, não hesita em insultar as mulheres, em chamar "criminosos e traficantes" aos mexicanos, em defender a expulsão dos 11 milhões de ilegais do país, em querer banir os muçulmanos dos EUA ou construir um muro na fronteira com o México. Posições que levaram o USA Today a, pela primeira vez em 34 anos de existência, apelar a não votar num candidato. "Trump mostrou repetidamente que não tem o temperamento, conhecimento, firmeza e honestidade que a América precisa no seu presidente."

Sem apoiar Hillary, o USA Today sugeriu aos leitores que votem na candidata democrata, num terceiro candidato ou escrevam um outro nome no boletim a 8 de novembro. Mais longe foi o The Arizona Republic, que em 126 apoia pela primeira vez uma democrata. Uma decisão que já lhe valeu ameaças de morte e levou muitos leitores a cancelar a assinatura.

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