Esquerda e direita apoiam Macron para travar Le Pen

Candidatos do En Marche! e da Frente Nacional de novo a votos a 7 de maio. Hamon e Fillon apelam ao voto em Macron.
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Segundo as estimativas do instituto Ipsos, o centrista Emmanuel Macron é o vencedor da primeira volta, com 23,9%, seguido de Marine Le Pen, líder da Frente Nacional, com 21,4%. Ambos vão à segunda volta, a 7 de maio, com todas as sondagens realizadas até hoje a darem uma larga vitória ao fundador do En Marche! face à líder da FN.

Em terceiro lugar surge François Fillon, com 19,9%, seguido de Jean-Luc Mélenchon, com 19,5%. O socialista Benoît Hamon não vai além dos 6,4%. Os restantes candidatos não vão além dos 5%.

Depois de saudar os apoiantes a caminho do palco, Emmanuel Macron começou por dizer "Voilá!". Dirigindo-se aos "caros compatriotas", o candidato do En Marche! lembrou que neste 21 de abril, o povo francês foi votar em massa. E "decidiu levar-me à vitória na primeira volta" deste escrutínio.

O candidato do En Marche! chegou à Porte de Versaille de mão dada com a mulher, Brigitte. Mostrando-se "honrado" com a escolha dos franceses, o ex-ministro saudou os dez rivais, nomeando-os um a um.

Recebido com gritos de "Macron, presidente!!!", disse quer "reconciliar a França para ganhar dentro de 15 dias e amanhã governar o país". E promete ser um presidente que "protege, transforma e constrói".

"O desafio a partir desta noite não é ir votar seja contra quem for", afirmou. "O desafio é que todos possam encontrar o seu lugar em França e na Europa". O candidato prometeu criar uma nova maioria de governo, feita de "novos rostos".

"Não há várias Franças. Há apenas a França dos patriotas", garantiu, acrescentando: "Quero ser o presidente dos patriotas face à ameaça dos nacionalistas", antes de admitir ter pela frente uma tarefa "imensa".

Um pouco antes, Marine Le Pen já tinha reagido aos resultados. "Chegou o momento de libertar o povo francês", disse. Afirmando-se como "a candidata do povo", a líder da Frente Nacional apelou a todos para se juntarem a ela na segunda volta a bem do "interesse superior do país". Garantindo estar em jogo "a sobrevivência da França", Marine Le Pen recordou que a grande questão destas eleições passa por travar a "mundialização selvagem que ameaça a nossa civilização".

Agradecendo aos franceses por lhe terem permitido passar a "primeira etapa que deve conduzir os franceses ao Eliseu", a líder da Frente Nacional considerou o seu resultado como "um ato de orgulho francês, o de um povo que volta a erguer a cabeça, certo dos seus valores e confiante no futuro".

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Pouco antes, fora François Fillon a reagir. "Não há outra escolha a não ser votar contra a extrema-direita. Votarei a favor de Emmanuel Macron", anunciou o candidato da direita. O ex-primeiro-ministro e candidato d'Os Republicanos admitiu que não o fará "de ânimo leve", mas explicou ser necessário "escolher o que é preferível para o nosso país". Recordando o passado de violência da Frente Nacional, Fillon explicou ainda que com Marine Le Pen no Eliseu, França iria à falência, sublinhando que "o extremismo só pode trazer infelicidade".

Também Alain Juppé, o ex-primeiro-ministro derrotado por Fillon nas primárias da direita, apelou a votar Macron. "O nosso país precisa de reformas corajosas para reconstruir um Estado forte, voltar ao pleno emprego, voltar a colocar a educação e a formação no centro das políticas públicas. Espero que Emmanuel Macron restabeleça a credibilidade de França no cenário europeu e mundial, e que dê à juventude de França a esperança num mundo novo".

O primeiro a reagir foi Benoît Hamon. "Falhei, falhei!", afirmou o candidato da esquerda, sublinhando que esta foi "uma derrota moral para a esquerda, toda a esquerda". Afirmando-se "orgulhoso" de ter feito uma campanha "positiva" que "voltou a dar esperança aos jovens do país", o ex-ministro garantiu no entanto que "a esquerda não está morta".

Apesar de considerar Macron um adversário político, Hamon apelou a votar no candidato do En Marche! para "abater a extrema-direita". Também o primeiro-ministro socialista Bernard Cazeneuve pediu aos franceses para irem às urnas a 7 de maio votar em Macron "para bater a FN, para travar o projeto desastroso [de Marine Le Pen] de regressão da França e de divisão dos franceses".

O presidente François Hollande, que decidiu não se candidatar a um segundo mandato, já ligou a Macron a felicitá-lo.

No Twitter, Manuel Valls juntou-se ao apoio socialista ao candidato do En Marche!. "Como na primeira volta, votarei Macron a 7 de maio. Cada um deve medir a gravidade do momento e fazer tudo pela união. Pelo França.", escreveu o ex-primeiro-ministro, derrotado por Hamon nas primárias da esquerda.

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Quem não deixou nenhuma indicação de voto foi Jean-Luc Mélenchon. Pouco antes das 22:00 (menos uma em Lisboa), o candidato da França Insubmissa veio dizer aos franceses que "quando os resultados finais forem conhecidos, iremos respeitá-los"."O resultado anunciado ao início da noite não é o que esperávamos. Em última instância, o que foi anunciado não será o correto"

Mélenchon pediu aos seus apoiantes para manifestarem a sua opinião e garantiu que a sua opinião será tida em conta e será comunidada.

"Apelo-vos a ficarem juntos, a serem um movimento", pediu aos apoiantes, sublinhando que os desafios continuam por ultrapassar. "Viva a República, viva a França!", remata, não dando indicação de voto.

Entre os apoiantes de Macron reunidos Porte de Versailles em Paris, o ambiente começou a aquecer. As cerca de 300 pessoas agitaram bandeiras enquanto a televisão exibia os primeiros resultados. Quem chega recebe o material para a festa.

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Do lado da Frente Nacional, Marion Maréchal-Le Pen, sobrinha de Marine, falou numa "vitória histórica para os nacionalistas e os soberanistas". A deputada falou numa "clivagem clara que por fim se afirma" e apela aos franceses para se mobilizarem na segunda volta.

A BFMTV segundo estimativas da Elabe dá uma distância ainda maior entre os dois primeiros candidatos, com Macron nos 24% e Le Pen nos 21,8%. Fillon, d'Os Republicanos, surge ligeiramente à frente de Mélenchon, com 19,9%, contra 19,3% do candidato da França Insubmissa.

Outro instituto, Sofres, coloca Macron e Le Pen em igualdade, com 23%. E Fillon e Jean-Luc Mélenchon, ambos com 19%.

Em declarações à AFP, Macron garantiu: "Virou-se uma página da vida política francesa". E acrescentou: "os franceses manifestaram o seu desejo de renovação. A nossa lógica agora é a da união, que perseguiremos até às legislativas". Estas estão previstas para 11 e 18 de junho.

A previsão é de que a participação ronde os 78%, ligeiramente abaixo da registada na primeira volta em 2012 (79,48%).

No total, 11 candidatos disputavam a primeira volta das presidenciais. Dez deles aguardam os resultados na região de Paris e só Marine Le Pen, líder da Frente Nacional, esperava a contagem dos votos em Hénin-Baumont, no norte de França.

A maior parte das urnas fecharam às 19.00 locais (18.00 em Lisboa), mas nas zonas urbanas só fecharam uma hora depois.

Não foram feitas sondagens à boca das urnas, com as previsões a serem feitas com base na contagem em várias assembleias de voto representativas da população francesa. Este sistema costuma ser bastante fiável, com uma diferença em relação ao resultado final de cerca de um ponto percentual. Mas numa eleição tão renhida, com quatro candidatos a poucos pontos de diferença nas sondagens, a dúvida era saber se seria possível ter resultados rapidamente.

Estas são as primeiras presidenciais a decorrer em estado de emergência, que foi declarado em novembro de 2015 após os atentados de Paris. A segurança foi garantida por 50 mil polícias e gendarmes e sete mil militares da Operação Sentinela (antiterrorista).

*Os resultados das votações foram atualizados às 1.14 quando estão apurados 96% dos votos

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