Debate Sánchez-Rajoy marcado por corrupção e resgate bancário

Líderes do PSOE e do PP debitaram números, cronologias, citações e trocaram algumas acusações. Sánchez chamou mentiroso a Rajoy. Este não gostou
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Oito minutos apenas. Foi este o tempo que o líder socialista demorou a referir o ex-tesoureiro do Partido Popular, Luis Barcenas, responsável pelo esquema de contabilidade paralela no partido do primeiro-ministro espanhol. "O que o senhor fez nestes últimos quatro anos foi mentir aos espanhóis", disse Pedro Sánchez, no debate realizado ontem à noite com Mariano Rajoy, citando a mensagem de telemóvel que o líder dos populares enviou a Barcenas a 18 janeiro de 2013 dizendo: "Luis. Entendo. Sê forte." Uma semana depois o chefe do governo afirmava não se lembrar da última vez que falara com o tesoureiro.

Mas o caso de Barcenas não foi o único que o secretário-geral do PSOE arremessou contra o rival. Outro foi o de Rodrigo Rato, ex-presidente do Bankia. Quando Rajoy se vangloriou da recuperação económica em Espanha, afirmando que quando em 2011 chegou ao governo o país "estava à beira do resgate financeiro" e que hoje já ninguém fala no assunto, Sánchez respondeu-lhe: "O senhor cortou em tudo menos na corrupção do seu partido." E prosseguiu: "Na sua equação desse milagre económico tem de incluir o Bankia, que foi o resgate, que o senhor nega que existiu."

Situando em 25 mil milhões de euros o custo para os espanhóis do resgate ao Bankia, o cabeça de lista do PSOE às eleições de dia 20 disse não ser verdade que Rajoy tenha evitado o resgate. E aproveitou para debitar uma cronologia do que disse o líder do PP em várias ocasiões sobre isso. O chefe do governo, por sua vez, após debitar números que garante comprovarem que Espanha "é dos países que mais crescem", afirmou: "Fui pressionado a pedir o resgate e não o fiz. Não houve um resgate financeiro ao país. Foram obrigações para os bancos." Enquanto Sánchez acusou várias vezes Rajoy de estar a mentir, o líder do PP acusou o rival do PSOE em diversas ocasiões de estar a dizer coisas falsas e pouco sensatas.

"O senhor devia ter-se demitido há dois anos, assumir a responsabilidade política e ir para casa", lançou Sánchez, enquanto Rajoy, visivelmente irritado, replicou: "Então devia ter apresentado uma moção de censura. Não lhe admito. Sou um político limpo. Não fiz nada." Sobre a Catalunha, Sánchez defendeu uma reforma constitucional. Rajoy prometeu defender a unidade de Espanha.

Caça ao voto

Este foi o primeiro e o único frente-a-frente entre os líderes e cabeças de lista dos dois maiores partidos em Espanha. O primeiro-ministro recusara até agora partici- par em debates com candidatos de outros partidos dizendo que só tinha intenção de debater com o líder da oposição. O frente-a-frente foi moderado, durante quase duas horas, pelo presidente da Academia de Televisão, Manuel Campo Vidal. A transmiti-lo, 13 cadeias de televisão como a TVE, a La Sexta ou o Canal Sur. E ainda algumas rádios e sites de internet de jornais como o do El País.

Este embate era tido como fundamental para conquistar votos e definir quem sairá vencedor do escrutínio deste domingo. Segundo uma sondagem Sigma Dos ontem divulgada pelo El Mundo, o PP surge em primeiro lugar nas estimativas de voto com 27,2% (mesmo assim longe dos 44,6% que conseguiu em 2011). O PSOE vem em segundo com 20,3% (há quatro anos teve 28,8%). O Ciudadanos e o Podemos, que ainda não existiam ou não tinham expressão nacional em 2011, aparecem creditados, respetivamente, com 19,6% e com 18,4% das estimativas de voto neste inquérito. No mesmo dia, uma outra sondagem, da Metroscopia para o El País, deu ao PP 25,3% e ao PSOE 21%, surgindo o Podemos de Pablo Iglesias em terceiro lugar com 19,1% e o Ciudadanos de Albert Rivera na quarta posição com 18,2%. Quando traduzidas para o número de mandatos estas percentagens colocam os dois partidos em pé de igualdade com 60 deputados eleitos cada um, num Parlamento que tem 350. Populares e socialistas conquistariam 109 e 90 eleitos, respetivamente.

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