22 fevereiro 2016 às 00h20

Boris Johnson desafia Cameron e vai fazer campanha pelo brexit

Mayor de Londres junta-se a dissidentes dos conservadores antes de referendo de 23 de junho.

Helena Tecedeiro

O anúncio estava previsto para o fim do dia - numa coluna de opinião que o The Telegraph previra divulgar no site horas antes de chegar hoje às bancas -, mas ao final da manhã de ontem a BBC avançou o que muitos desconfiavam: Boris Johnson vai fazer campanha pela saída do Reino Unido da União Europeia no referendo de 23 de junho. Um claro desafio ao primeiro-ministro David Cameron que na sexta-feira, e após uma maratona negocial em Bruxelas, conseguiu um acordo com os parceiros europeus que garante um estatuto especial ao seu país.

O próprio Boris acabou por decidir enfrentar a multidão de jornalistas que se juntou à sua porta para explicar a decisão "terrivelmente difícil" de defender o brexit. "Após 30 anos a escrever sobre isto, tenho hipótese de fazer algo". O mayor acusou a União Europeia de estar "fora de controlo democrático" e sublinhou a necessidade de os britânicos obterem "um acordo melhor" com Bruxelas.

Quanto aos que o acusam de estar a fazer uma manobra política para ficar com o lugar de Cameron, Boris negou, garantindo que "aconteça o que acontecer, David deve ficar".

Figura muito querida entre os britânicos - seja graças ao cabelo desgrenhado ou ao discurso sem papas na língua -, Boris Johnson teria sido um apoio de peso na campanha pela permanência. De tal forma que ainda ontem de manhã, na BBC, Cameron lhe mandara um recado ao lembrar os eurocéticos que "dar os braços com Nigel Farage [o eurodeputado líder do UKIP] e George Galloway [também eurodeputado, mas do partido Respect] e dar um passo em direção ao abismo seria um passo em falso para o nosso país".

Afinal, parece que é um passo que Boris escolheu dar. O mayor, que deixa a Câmara de Londres em maio, é apontado como um dos favoritos a suceder a Cameron na liderança do Partido Conservador. Antigo jornalista (foi correspondente em Bruxelas durante vários anos), alguns analistas viam já Boris Johnson com um lugar no governo mal saísse da autarquia. Mas com esta decisão de fazer campanha pelo brexit, desafiando Cameron, todos parecem concordar que o verdadeiro objetivo do ainda mayor não é ser ministro, é mesmo chefiar o executivo. "Portanto, Boris não quer um lugar de ministro, quer o lugar de primeiro-ministro", escrevia John Rentoul, analista político do The Independent, para o qual a decisão do mayor significa "mais problemas para Cameron".

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As reações à decisão de Boris não se fizeram esperar. E nem precisaram da confirmação do próprio. A campanha Vote Leave deixou-lhe um gorro e um chapéu-de-chuva à porta de casa. E o deputado conservador Steve Baker saudou no Twitter como era "bom ter Boris na nossa equipa".

Dissidentes

Boris junta-se assim ao chamado "gangue dos seis", os seis ministros de Cameron que já tinham anunciado que iriam fazer campanha pelo brexit. Liderado pelo ministro das Finanças, Michael Gove, este grupo de dissidentes conta ainda com o ministro do Trabalho e Pensões, Iain Duncan Smith, o da Cultura, John Whittingdale, o presidente da Câmara dos Comuns, Chris Grayling, a ministra da Irlanda do Norte, Theresa Villiers, e o secretário de Estado do Emprego, Priti Patel, que participa nos Conselhos de Ministros.

Em entrevista à BBC, Duncan Smith defendeu que ficar na UE aumenta o risco para o Reino Unido de ser alvo de ataques terroristas como o de Paris a 13 de novembro. Para o ministro do Trabalho e das Pensões, as políticas de imigração europeias fazem que o país fique "muito mais vulnerável a um ataque terrorista como os de Paris", uma vez que "não pode controlar ou saber exatamente quem está a chegar".