Minada por décadas de conflitos entre bandos criminosos, grupos rebeldes e movimentos separatistas, Mindanao é uma das províncias (semi-autónoma) mais pobres das Filipinas. Terra sem lei, com fronteiras porosas e uma população maioritariamente muçulmana num país de larga maioria católica, não espanta pois que se tenha tornado terreno fértil para o Estado Islâmico (ou ISIS). A perder terreno na Síria e no Iraque, o grupo terrorista parece estar a virar-se para o sudeste asiático, procurando criar uma província ou wilayat nas Filipinas..Após uma semana de combates e ataques aéreos contra militantes islamitas em Marawi - que fizeram mais de 60 mortos entre os rebeldes e 17 entre as forças de segurança - o governo impôs o recolher obrigatório e reforçou a presença de polícias e militares em Iligan. As forças de segurança temem que com a população que fugiu da cidade - mais de 90% dos 200 mil habitantes - também alguns combatentes do ISIS se estejam a instalar em Iligan, a 38 km. O objetivo é evitar que se abra nova frente na luta contra os terroristas.."Não queremos que o que está a acontecer em Marawi alastre a Iligan", explicou o coronel Alex Aduca, comandante do Quarto Batalhão de Infantaria Mecanizado, citado pelo The Guardian. Os militares capturaram alguns militantes a entrar na cidade. Um porta-voz do governo regional de Lanao del Sur apelou por seu lado à população para deter pelos seus próprios meios os militantes do Maute, o grupo extremista local associado e leal ao ISIS que no dia 23 assumiu o controlo de vários bairros de Marawi. "Se alguém achar que é fisicamente capaz de deter um membro do Maute , que o faça. Traga-nos esse criminoso e tomaremos as medidas necessárias", afirmou Zia Alonto Adiong..As forças de segurança no terreno - agentes da polícia e militares armados com espingardas, revistaram camiões e confirmaram as identidades em dois checkpoints na estrada entre Iligan e o aeroporto. Segundo fontes dos serviços secretos filipinos citadas pela Reuters, entre os 400 a 500 militantes do ISIS que tomaram o controlo de Marawi, cerca de 40 serão estrangeiros, tendo chegado recentemente de países como Indonésia, Malásia, Paquistão, Arábia Saudita, Iémen, Índia, Marrocos ou Turquia. "O ISIS está a encolher no Iraque e na Síria e a descentralizar as operações para partes da Ásia", explicou também à Reuters Rohan Gunaratna, especialista em segurança na Escola de Estudos Internacionais S. Rajaratnam, em Singapura..O presidente Rodrigo Duterte já decretou a lei marcial em Mindanao. Antigo presidente da Câmara de Davao, na mesma província, o chefe do Estado lançou, desde que chegou à presidência da ex-colónia espanhola , uma guerra às drogas que já resultou na morte de milhares de traficantes. Depois de encorajar publicamente os civis a matarem consumidores e traficantes e de garantir que os polícias que façam execuções extrajudiciais não serão punidos, Duterte foi duramente criticado pela comunidade internacional por incentivar a violência..De visita à Rússia quando os confrontos começaram em Marawi, Duterte voltou logo às Filipinas, onde defendeu uma resposta militar forte. "Quem desafiar as autoridades será morto. E se isso significar muitas mortes, assim seja", afirmou. Conhecido pelas declarações bombásticas, Duterte garantiu aos soldados que os irá proteger na luta contra o ISIS, mesmo que cometam abusos durante os confrontos. "Se Forem ao fundo, vou com vocês. Quanto à lei marcial, às suas consequências, às suas ramificações, eu e só eu serei responsável. Façam o vosso trabalho que eu tomo conta do resto", explicou o presidente. Aos que violarem a lei, deixou o aviso: "Eu próprio vos ponho na prisão". Antes de brincar: "Se tiverem violado três, tudo bem, é problema meu"..O presidente apelou ainda a outros grupos rebeldes de Mindanao, incluindo duas fações de separatistas muçulmanos e uma liderada por maoistas, para se juntarem á luta contra o Maute, prometendo-lhes salário e benefícios, como por exemplo habitação..Os confrontos começaram depois de as autoridades filipinas, agindo com base em informações dos serviços secretos, terem tentado capturar Isnilon Hapilon, líder islamita mandato pelo ISIS como o seu homem no sudeste asiático. A operação falhou e os militantes que protegiam Hapilon - na lista dos mais procurados do FBI - acabaram por ocupar vários bairros de Marawi, assaltando escolas, hospitais e libertando os detidos das prisões..Composto por ex-combatentes da Frente Moro de Libertação Islâmica e por alguns estrangeiros, o Maute reivindicou o atentado que em 2016 fez 14 mortos em Davao.