É a maior investigação de sempre do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ)", garante ao DN Rui Araújo, repórter da TVI e um dos cerca de 400 profissionais que colaboraram com a organização para expor esquemas de lavagem de dinheiro, corrupção e evasão fiscal em todo o mundo. Rui Araújo e Micael Pereira, do semanário Expresso, foram os únicos portugueses a prestar serviço. "Regra geral, cada membro do Consórcio concentra--se no seu país e foi isso que eu e o Micael fizemos. Foi um trabalho de equipa, mais especificamente entre o jornal Expresso e a TVI", começa por explicar o jornalista da estação de Queluz de Baixo..Os documentos ligados a 38 anos de atividade da empresa panamiana Mossack Fonseca chegaram ao jornal alemão Süddeutsche Zeitung através de fonte anónima, há pouco mais de um ano, e foi em julho de 2015 que Rui Araújo e Micael Pereira entraram no barco da investigação. O ICIJ promoveu uma reunião em Washington, nos EUA, e outra mais tarde em Munique, na Alemanha, para que todas as equipas cooperassem num trabalho que se queria global. O objetivo era que examinassem provas, falassem com especialistas e trocassem impressões. "Tivemos sessões de trabalho em setembro. Posso dizer que é um processo que envolve muita tecnologia para a análise de dados", explicou o jornalista do Expresso. Sem querer entrar em detalhes, disse apenas que estão "focados exclusivamente na informação relacionada com Portugal". "É um processo que ainda está em curso. É muito complicado.".Rede em mais de 65 países.Fundado em 1997 por Chuck Lewis, o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação é uma rede global com mais de 190 membros em mais de 65 países. Financiada pelo empresário húngaro George Soros, da Fundação Open Society, pela Fundação Ford, entre muitos outros, dedica-se a grandes investigações com impacto internacional..Rui Araújo é membro desde o início, e o único português a pertencer, formalmente, à organização. "Convidaram-me para integrar o grupo inicial por três razões: a primeira, foi por ter estudado na Universidade de Harvard; a segunda porque o fundador do Consórcio era da [estação de TV] CBS e eu tinha lá estagiado e trabalhado durante uns anos; e a terceira, foi porque era considerado um trouble maker", contou o repórter da TVI, que também já participou em outras investigações da mesma instituição, como a Swiss Leaks - que expôs um esquema de evasão fiscal orquestrado pelo banco multinacional britânico HSBC através da sua subsidiária na Suíça..[artigo:5110428].No ano passado, Micael Pereira (apesar de não ser membro oficial) juntou-se a Rui Araújo para o Panama Papers. Antes disso, em 2013, já tinha colaborado num outro projeto idêntico, o Offshore Leaks. "O Consórcio está a fazer uma coisa que não era habitual há uns anos: colaboração, entreajuda e partilha de recursos entre jornalistas de todo o mundo. O jornalismo é uma profissão em que se fomenta naturalmente a concorrência e a competitividade, e o ICIJ vem mostrar que, no meio dessa cultura, é possível haver uma colaboração que não só enriquece a própria experiência dos jornalistas como traz mudanças na sociedade", frisa o jornalista do semanário Expresso. Para ele, estes Panama Papers, por serem "a maior fuga de informação de sempre", vêm ajudar a "consciencializar a sociedade civil e a criar maior pressão sobre os governos". "Acredito que uma fuga destas vai ter impacto nas regras, na legislação, e vai contribuir para que alguma coisa mude e para limitar este tipo de atividades.".Outros casos de corrupção.Até este domingo, o caso WikiLeaks, que emergiu em 2010, era o que envolvia a maior fuga de informação de sempre: Julian Assange, o fundador dessa organização, publicou cerca de 500 mil documentos secretos da defesa norte-americana. Vale a pena recordar, também, o Lux Leaks, escândalo financeiro no Luxemburgo, exposto em 2014, e o caso de Edward Snowden, que em 2013 tornou públicos detalhes do sistema de vigilância da Agência de Segurança Nacional norte-americana (NSA).