"Bruno de Carvalho é um pirómano do futebol português"
O seu apelido é Guerra, que é precisamente o ambiente em que está todas as segundas-feiras na TVI24, no programa Prolongamento. Guerra é só mesmo no nome?
É só no nome. Quem me conhece sabe. Aquilo é uma discussão apaixonada, de fervor clubístico, onde cada um de nós defende o seu emblema. Aquela máxima do ex-ministro Jorge Coelho aplica-se, quando ele dizia que quem se mete com o PS leva. Para mim, quem se mete com o Benfica leva. Tento sempre dar troco.
Mas quando diz que na sua vida não é assim, o que vemos na televisão é uma personagem criada por si?
Aquilo sou eu. Não sou é assim no dia-a-dia. Os meus amigos dizem que sou pacífico, não sou uma pessoa de conflitos, pelo contrário, sou uma pessoa de consensos. Aquilo dá uma imagem diferente daquilo que eu sou mas não é nada fabricado. Sou assim quando se discute futebol e o Benfica.
Através dos comentários que se leem nas redes sociais, percebe-se que o Pedro deve ser das figuras mais odiadas do país. Como é que reage às críticas e insultos?
É mais o que me contam mas já me habituei. Não tenho redes sociais, sou um infoexcluído. Claro que há coisas que me afetam um pouco, como quando mexem com a dignidade de uma pessoa. As pessoas, por vezes, são cruéis e injustas porque não me conhecem.
Mas mesmo dentro do núcleo de adeptos benfiquistas também está longe de reunir consenso. Não acha isso estranho?
Acho que a maior parte gosta. Mas nas redes sociais é natural isso acontecer porque há alguns sites que são assumidamente anti-direção do Benfica, que não gostam do atual modelo mas também reconheço que há muita gente que me critica e não se revê na forma como defendo o clube. Mas muitas pessoas vêm-me dar os parabéns e dizem que tenho que ser ainda mais duro com eles.
Não se coíbe de ir a nenhum lado por causa desta sua maior exposição pública?
Só não vou a Alvalade nem ao Dragão porque tenho noção que se fosse podia ser problemático.
É comentador do Prolongamento desde agosto de 2015. A partir daí, o programa mudou e passou a ter discussões mais agressivas e polémicas que têm contribuído para um aumento das audiências. Atribui à sua entrada este sucesso?
O mérito não é só meu, mas é verdade que o programa tem mais audiência do que tinha e, neste momento ganha diversas vezes ao programa da SIC Notícias, O Dia Seguinte.
Um mês depois de o Pedro ter entrado para o formato, Eduardo Barroso, o representante sportinguista decidiu abandonar o programa. Como viu esta saída?
Lamento. Acho que não teve razão para sair.
Numa entrevista que Eduardo Barroso deu, dias depois de ter abandonado o Prolongamento, chama-o de cobarde e acusa-o de lhe ter prejudicado a vida.
Pois. Quanto à cobardia acho que o insulto é a arma dos fracos. Não sei no que é que lhe estraguei a vida mas gostava de perceber. Acho que ele não teve pedalada para mim e como não conseguiu rebater aquilo que eu dizia, atirou a toalha ao chão e abandonou como abandonam os fracos.
Um estudo da Eurosondagem, em outubro de 2015, para o Jornal de Notícias, atribuiu ao presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, e logo a seguir a si, a responsabilidade pelo clima adverso entre adeptos do Benfica e do Sporting. Reconhece alguma razão nestes resultados?
Relativamente ao presidente do Sporting, sim. Acho que Bruno de Carvalho é um pirómano do futebol português. Ele é um produto tóxico que tem que ser removido do futebol. Em relação a mim, acho que é perfeitamente injusto, sou apenas um comentador que dá a sua opinião.
Uma das acusações que lhe fez foi ter sido o responsável por ter tornado público o caso do roubo do camião, crime pelo qual Luís Filipe Vieira foi condenado a 20 meses de prisão em 1993, pena que não cumpriu porque teve amnistia, e agora ser amigo do presidente. Esse caso não seria suficiente para o presidente do Benfica nunca mais querer ter conversas consigo?
Se calhar seria mas isso acho que abona a favor do presidente do Benfica. Não instiguei caso nenhum. Era uma sentença de uma história em que acabou por ser condenado por um roubo de um camião que teve a ver com umas dívidas de alguém a um grupo de amigos dele e ficou provado que ele teria contratado uma empresa de cobranças difíceis para, obviamente, fazer as contas com o senhor uma vez que o devedor nunca mais pagava. Publiquei essa história porque era jornalista, na área da Justiça e foi exatamente isso que expliquei ao presidente quando tive oportunidade de o conhecer através de um amigo em comum, o advogado António Pragal da Cunha. Imediatamente foi percebida essa questão de que não tinha nada contra Luís Filipe Vieira, que tinha sido uma das milhares de notícias de sentenças que fiz e hoje temos uma boa relação.
O presidente do Benfica costuma vê-lo no programa? Já lhe fez algum comentário acerca da sua participação?
Não sei se costuma ver. Apenas me disse uma coisa quando falei com ele e lhe disse que ia para o programa. Pediu-me que tentasse estar à altura do Benfica e que não deixasse o clube mal visto.
Alguma vez imaginou que por esta altura o Benfica pudesse estar em primeiro lugar do campeonato e nos quartos-de-final da Liga dos Campeões? Sempre acreditou em Rui Vitória?
Desde a primeira hora e contra muito gente que achava que estava a exagerar. O percurso que teve até chegar ao Benfica, tendo chegado até com mais currículo que o próprio Jorge Jesus, justificava a minha convicção.
O Pedro afirma diversas vezes conhecer Jorge Jesus e até garante que eram amigos. Mas muitas pessoas duvidam dessa relação.
Não sei se era amigo mas conhecia-o muito bem, os truques. Não lhe vou dizer o que é que o Jorge Jesus pensava de mim porque me ficava mal. Reconheço que é um grande treinador de campo mas falhou no essencial, na maneira como saiu. Acho que ele traiu o Benfica.
Foi a partir desse momento que a amizade acabou?
Nunca mais falámos a partir daí. Cheguei a ter uma conversa com ele porque sabia que o presidente do Benfica lhe iria apresentar uma proposta para renovar o contrato ao contrário do que se dizia e lhe iria manter o mesmo ordenado que auferia. Avisei-o uma semana antes e disse-lhe 'Jorge não estique a corda'. No entanto, ele sabia que estava uma condição essencial em cima da mesa que era a aposta na formação.
Antes de ser jornalista, chegou a ser arquivista. A paixão por documentos e papéis, a sua imagem de marca no programa, já é antiga?
Podia ter tudo no computador mas não me dava muito jeito. Tento ter argumentos para rebater o que está a ser dito. Por vezes, dizem-se banalidades e tento apresentar alguns factos. Esteticamente pode parecer mal porque fica sempre bem ter uma secretária limpa mas são estilos.
Essa capacidade de investigação através da procura e análise de documentos foi uma das ferramentas mais importantes para ter feito algumas das manchetes mais mediáticas do semanário Independente?
Reconheço que foi fruto de uma grande investigação, de muitas horas a ler coisas que muitos não leem. O Independente, na altura liderado por Paulo Portas, uma pessoa genial, foi uma pedrada no charco, inovou pela sua capacidade investigação.
Falou em Paulo Portas, a quem o seu percurso profissional está ligado. Foi jornalista do semanário Independente quando ele era diretor. Depois foi seu assessor quando era Ministro da Defesa e é até hoje assessor parlamentar do partido CDS-PP. Agora que Paulo Portas decidiu abandonar a liderança do partido, vai continuar com o seu cargo?
Acho que vou continuar. Lamento a saída dele e acho que o doutor Paulo Portas vai fazer muita falta ao CDS e à política portuguesa. Espero que seja um até já e que regresse. Tem muito ainda para dar a Portugal. É uma decisão pessoal que respeito profundamente mas acho que o CDS não vai ter uma vida fácil como o Benfica terá um problema quando sair o presidente Luís Filipe Vieira.
Mas considera que Assunção Cristas poderá não ser a escolha indicada?
Acho que vai ter um papel muito difícil porque o doutor Paulo Portas é um homem brilhante e o CDS é muito fruto da sua capacidade de trabalho. Nada tem a ver com a capacidade da doutora Assunção Cristas, só acho que é difícil substituí-lo.
O Pedro também é diretor de conteúdos da BTV. No entanto, é colaborador e não funcionário do clube. Passa por aí a sua maior ambição profissional?
Claro que gostava de ser funcionário do Sport Lisboa e Benfica, nesta área da comunicação.
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