REPORTAGEM: Recuperação da Barrinha de Esmoriz "não se imaginava possível"
Numa visita ao local com a agência Lusa, o presidente da Câmara Municipal, Salvador Malheiro, cruza-se nos primeiros 200 metros com dezenas de caminhantes e há uma expressão que vai ouvindo repetidamente: "Não imaginávamos que fosse possível isto ficar assim outra vez" -- livre dos efeitos de anos de descargas poluentes com origem nos concelhos de Ovar, Espinho e Santa Maria da Feira.
Ana Albuquerque Barata é de São João da Madeira, passeava na paliçada que conduz ao posto de observação de aves e, ao encontrar o autarca, diz-lhe: "É comovente ver como isto está hoje. Trabalhei nesta zona como voluntária da Quercus há uns 25 anos, a fazer ninhos para os pássaros poderem nidificar, e partia-me o coração ver os estragos que aqui se fizeram".
Agora, envolvida pela paisagem limpa e deliciada com o coaxar das rãs, afirma: "Isto está maravilhoso. Não pensei que fosse possível ficar assim outra vez".
Joaquim Oliveira e a esposa Conceição vivem em São Paio de Oleiros, na Feira, e admitem que não estavam com calçado próprio para percorrer os passadiços na íntegra, mas também não conseguem evitar os sorrisos rasgados após um percurso pelas primeiras pontes. "Isto faz-me lembrar a minha África", diz ela.
Encantados com os "bandos de pássaros" que identificaram na zona, também não acreditavam que a recuperação fosse viável após "tantos anos de poluição", mas agora prometem fazer do local um roteiro frequente e apreciar a evolução das margens à medida que as árvores recém-plantadas vão crescendo.
"Isto está um espetáculo", avalia Joaquim. "Se me dissessem, eu não acreditava que tivesse ficado um passeio assim bonito", confessa.
Poucos metros depois, aparece ao caminho António Bandeira, que é de Esmoriz e aprendeu a nadar na barrinha, mas está há vários anos emigrado na Áustria e, ao reencontrar a lagoa da sua infância no seu estado atual, gostava de a poder mostrar aos vizinhos desse e outros países.
"Isto está uma coisa luxuosa que eles lá fora não têm", explica. "Ando muitas vezes por França, pela Alemanha, por Espanha, por Itália e pela Bélgica, e não se vê este tipo de percursos em lado nenhum", defende.
A mudança que a sociedade Polis Litoral Ria de Aveiro operou na barrinha com recurso a 4,7 milhões de euros já o levou, por isso, a fazer do novo passadiço um passeio frequente durante o período de férias em Portugal, para namorar com a esposa sempre com vista para o mar.
"Parece impossível como isto estava tão sujo há uns anos", recorda, a abanar a cabeça devagarinho, como que a sacudir a incredulidade. "Nunca esperei que pudesse haver aqui uma mudança tão radical, mas o facto é que valeu a pena esperar: isto está lindo - quem mexeu nisto soube fazer a coisa bem feita", conclui.