"É muito difícil fazer uma longa-metragem de ficção em Moçambique. Faltam meios", sobretudo, apoios financeiros, afirmou o cineasta brasileiro radicado em Maputo que na quarta-feira apresentou o trabalho em antestreia no Centro Cultural Brasil-Moçambique..O filme resulta de um trabalho conjunto da produtora portuguesa Ukbar Filmes e da moçambicana Ébano Multimédia e só foi possível devido aos apoios do Ministério da Defesa e dos Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM), que disponibilizaram, respetivamente, armas e uma locomotiva para a gravação..O "Comboio de Sal e Açúcar" resulta de uma adaptação do livro com o mesmo nome, escrito há 15 anos por Lucínio Azevedo e que narra a história de uma enfermeira que se apaixona por um militar durante a viagem de um comboio que, em plena guerra civil moçambicana, procura chegar ao seu destino sob iminente perigo de confrontos militares..Num primeiro momento, o objetivo era fazer um documentário, uma forma de retratar a história das mulheres moçambicanas que, durante os confrontos entre a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) e o exército governamental, viajavam cerca 700 quilómetros para chegar ao Malaui, país vizinho, na ambição de trocar sal por açúcar, que na altura escasseava em Moçambique..A história de ficção acabaria por levar a melhor..Além da antestreia, o "Comboio de Sal e Açúcar" só tinha passado por festivais e em Joanesburgo, na África do Sul, até foi distinguido com o prémio de Melhor Filme..O país tem muitas "histórias" e "muitos realizadores fantásticos. Mas não há meios financeiros", lamentou o cineasta, lembrando que o último filme de ficção moçambicano foi "A Virgem Margarida", também da sua autoria, e foi gravado há quatro anos.."Por exemplo, para mim, teria sido impossível gravar o 'Comboio de Sal e Açúcar', sem o apoio dos CFM", reiterou..As limitações impõem esta cadência de três a quatro anos entre cada lançamento..Antes de "Virgem Margarida", o filme de ficção moçambicano que tomou as telas foi apresentado três anos antes: "O Último Voo de Flamingo", de João Ribeiro, baseado num romance do escritor Mia Couto..A falta de apoio a projetos de ficção tem levado os cineastas moçambicanos a apostarem no documentário institucional, um género em que o país ganhou experiência e em que é uma referência a nível regional..A abertura de escolas de cinema em Moçambique e o gradual interesse pela sétima arte parece relançar a esperança e é por isso que jovens atrizes como Milane Rafael, que integra o elenco "Comboio de Sal e Açúcar", se manifestam otimistas.."As coisas começam a mudar e parece-me que para melhor. Por exemplo, um projeto de ficção com esta dimensão não é fácil de encontrar em Moçambique e é uma honra para nós [jovens] integrá-lo", declarou a atriz..A película junta atores de Moçambique, Angola e Brasil..Lusa /Fim