CGTP quer aumento "imediato" de 40 euros para salários do setor da cortiça

O secretário-geral da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP) revelou hoje que já apresentou aos patrões da indústria corticeira as propostas que reivindicam um aumento salarial "imediato" de 40 euros e o fim dos contratos precários para os trabalhadores do setor.
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No final de um plenário com cerca de 70 dos 140 trabalhadores da empresa Pietec, em Santa Maria da Feira, Arménio Carlos afirmou que as reivindicações entregues à Associação Portuguesa da Cortiça (APCOR) insistem também na necessidade de impedir a implementação de sistemas de laboração contínua enquanto "artifício" em marcha para reduzir os rendimentos salariais dos funcionários.

"O setor continua a exportar de uma forma muito significativa - mais de mil milhões de euros - e tem um volume de negócios e lucros elevados, mas os trabalhadores estão com os mesmos salários do ano passado", declara o líder da intersindical.

"A proposta apresentada pela CGTP e pelo sindicato dos corticeiros é a atualização imediata dos salários num mínimo de 40 euros", acrescenta.

Quanto à precariedade, Arménio Carlos diz que a própria Pietec é "exemplo de uma empresa que tem algumas dezenas de trabalhadores com vínculos precários e que regularmente os recruta para desenvolver atividade permanente, com a agravante de que os dispensa quando termina o prazo legal [do contrato] e, passados alguns dias, os contrata novamente para desenvolverem a mesma atividade profissional".

"Isto é uma subversão objetiva da lei e é preciso punir exemplarmente as empresas que recorrem a este tipo de funcionamento - que já afeta 33% dos trabalhadores do setor privado", realça.

O secretário-geral da CGTP quer ainda subsídios de turno, 25 dias de férias e o fim da discriminação entre trabalhadores, já que "o setor corticeiro tem situações de aplicação de diuturnidades ao pessoal administrativo, excluindo o da produção" de usufruir dos mesmos benefícios.

Ainda no que se refere em concreto à Pietec, onde a laboração envolve três turnos diários, o Sindicato dos Operários Corticeiros do Norte lamenta que, uma vez adquirida pelo grupo multinacional Diam, a empresa da Feira ofereça aos seus funcionários piores condições laborais e remuneratórias do que as praticadas nas unidades que a marca detém noutros países.

"A primeira coisa que [a Diam] fez foi introduzir laboração contínua, sete dias por semana, 24 horas por dia, e também se deteta que quase 50% dos trabalhadores têm vínculos precários, ao mês e ao ano", diz Alírio Martins, da direção do sindicato.

"Os camionistas que vão e vêm de Espanha também reclamam que lá há uma realidade diferente em termos de situação laboral e remuneração, e sentem-se injustiçados", explica.

Além dessas questões, os participantes no plenário desta manhã terão ainda relatado ao sindicato problemas de higiene e segurança no trabalho, como a presença de ratos junto aos cacifos e áreas de laboração com temperaturas "que chegam aos 50 graus".

"Isto é um atentado à saúde dos trabalhadores e uma demonstração da inoperância da ACT [Autoridade para as Condições do Trabalho], que já foi chamada a intervir, mas ainda não o fez", defende arménio Carlos.

Contactada pela Lusa, fonte oficial da Pietec afirma que a empresa "cumpre e cumprirá sempre as tabelas salariais acordadas no âmbito da APCOR, que, por seu lado, tem dialogado com as organizações sindicais e representativas dos trabalhadores".

A mesma fonte adianta que "a empresa tem em curso um programa de melhoria substancial das condições de laboração, num investimento significativo que está a ser feito em diálogo com os trabalhadores e em articulação com as autoridades".

Quanto ao formato dos contratos laborais vigentes, a Pietec diz seguir "uma política ativa de retenção de talento, apostando sempre que possível em relacionamentos laborais de longo prazo".

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